Ficou célebre com a “liberalidade” de 14 milhões de dólares dada ao antigo presidente do Banco Espírito Santo (BES), Ricardo Salgado. O construtor civil José Guilherme morreu esta noite, revelou uma fonte próxima ao Jornal Económico.

O construtor da Amadora foi uma peça chave na revelação do caso BES. A queda de Ricardo Salgado começou pela descoberta em 2012 de transferências bancárias num valor total de 14 milhões de dólares do empreiteiro José Guilherme, um dos principais clientes do BES, para uma conta de uma sociedade offshore de Ricardo Salgado na Suíça.

O ex-presidente do BES viria a justificar estas transferências, na primeira vez que teve de deslocar-se ao Departamento Central de Investigação e Ação Penal, como “uma liberalidade” do seu “amigo” José Guilherme pelos conselhos que o próprio Ricardo Salgado lhe tinha dado para apostar em investimentos imobiliários em Angola — e não no Leste europeu.

O construtor fez o empreendimento Torres Oceano em Luanda. Antes disso,  já tinha construído o condomínio Dolce Vita, no bairro de Talatona, no sul da cidade. Foi ainda responsável pelo complexo Clássicos de Talatona, onde estão instalados alguns ministérios do Estado angolano.

Em 2022 o construtor civil português pôs o Novobanco em tribunal para renegociar uma acordo de reestruturação de dívida de 94 milhões de euros perante a recusa do banco.

O construtor era um dos grandes devedores Novobanco, de acordo com uma auditoria da EY. O próprio chegou a admitir que quando o BES foi alvo de uma medida de resolução pelo Banco de Portugal, em 2014, devia “cerca de 121 milhões de euros” ao banco, somadas as suas dívidas pessoais às das suas empresas e aos avais e garantias que prestou a terceiros.

O Novobanco tentou vender um crédito malparado de 121 milhões de euros do construtor da Amadora na carteira Harvey, mas a operação foi bloqueada pelo Fundo de Resolução.

Jornal Económico avançou em primeira-mão que José Guilherme avançou com uma ação em tribunal contra o Fundo de Resolução. O construtor queria obrigar o fundo liderado por Luís Máximo dos Santos a autorizar a renegociação da dívida ao Novobanco depois de este se ter oposto a esta operação por representar um “perdão muito significativo” da dívida.

A ação colocada por José da Conceição Guilherme contra o Fundo de Resolução deu entrada a 1 de fevereiro no Tribunal Administrativo de Círculo de Lisboa, conforme consultado pelo Jornal Económico (JE).

O construtor surge ainda ligado ao fundo imobiliário criado em 2005 para desenvolver projetos na Amadora e que chegou ao final de 2020 com dívidas de cerca de 85 milhões de euros ao Novobanco e também ao Banco Montepio. Em 2022 a insolvência do Invesfundo II foi aprovada pelo tribunal da comarca de Lisboa.