Populares de Mucojo, na província moçambicana de Cabo Delgado, disseram esta terça-feira à Lusa que aquele posto administrativo é controlado desde domingo por um grupo de terroristas.

“O posto administrativo de Mucojo está nas mãos dos terroristas desde domingo, mas a população continua no mesmo espaço. Eles disseram à população para não se preocupar, pois só querem confrontar os militares”, disse à Lusa, sob anonimato, um dos populares.

O posto administrativo de Mucojo, no distrito de Macomia, dista 40 quilómetros daquela sede distrital e desempenha um papel importante na região, por ser ponto de saída do pescado, tendo sido palco de diversos confrontos com os militares nas últimas semanas.

A Lusa tentou nas últimas horas ouvir o administrador do distrito de Macomia sobre a alegada tomada de Mucojo por terroristas, mas que remeteu qualquer declaração para após autorização governamental.

“Apesar de terem dito que não têm nada a ver com o povo, temos medo. Porque das últimas vezes foi assim, mas depois violentaram-nos”, acrescentou, por sua vez, outra fonte local, confirmando o receio dos habitantes.

Outra fonte da comunidade confirmou à Lusa que a ocupação de Mucojo pelos terroristas foi antecedida de uma carta alegadamente enviada às Forças de Defesa e Segurança (FDS) na área, datada de 18 de janeiro e na qual era pedida a retirada dos militares sob pena de novos confrontos.

“São atrevidos, mandaram carta bem clara em que as FDS deveriam sair com urgência para dar lugar a eles, caso contrário sofreriam duros golpes”, disse à Lusa uma fonte a partir da sede de Macomia, que recebeu cinco pessoas que fugiram de Mucojo no domingo.

Apesar do alerta sobre a tomada da localidade, parte da população permanece em Mucojo e os veículos circulam quase normalmente, segundo os relatos locais.

“Acho que o governo deveria apertar o cerco, de Macomia a Mucojo. Os carros continuam a circular, as pessoas continuam lá, isso é estranho. Se calhar, os insurgentes podem estar a conviver connosco aqui, na sede de Macomia”, lamentou, por sua vez, um líder comunitário a partir da sede distrital e que também acolheu uma família composta por sete membros em fuga de localidade tomada.

Na quinta-feira, os insurgentes ainda invadiram algumas bancas e saquearam bens de primeira necessidade em Mucojo.

“São confusos, levam produtos e não pagam, e depois pedem para ficarmos e não termos medo deles”, lamentou Amisse Chale, pescador e residente de Mucojo há mais de 20 anos.

A província de Cabo Delgado enfrenta há seis anos uma insurgência armada, com alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico, que levou a uma resposta militar desde julho de 2021, com apoio do Ruanda e da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projetos de gás.

O conflito já fez um milhão de deslocados, de acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), e cerca de 4 mil mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.