Médica do hospital de Faro acusa colega e director de cirurgia de negligência
Diana de Carvalho Pereira apresentou uma queixa na Polícia Judiciária, a quem denunciou 11 casos de erro e negligência, de que resultaram três mortes. Denúncia foi encaminhada para o Ministério da Saúde.
Diana Pereira de Carvalho acusou o ex-orientador de formação e o director do Serviço de Cirurgia do hospital de Faro de vários casos de erro e negligência, registados naquela unidade hospitalar em Janeiro e Março deste ano, e alegadamente praticados pelo antigo orientador, que não identificou.
Na denúncia, a que o NOVO teve acesso, a médica relata 11 casos médicos que resultaram em três mortes, dois internamentos nos cuidados intermédios e vários casos de lesão corporal associada a erro médico. De acordo com a médica, estas lesões vão desde “castração acidental, perda de rins ou necessidade de colostomia para o resto da vida”.
Num dos casos que resultaram em morte, o paciente deu entrada, a 31 de Dezembro de 2022, com uma infecção no pé esquerdo, sem “qualquer exame complementar de diagnóstico para avaliar a permeabilidade vascular”. Foi-lhe dada alta a 23 de Janeiro deste ano, tendo regressado ao serviço de urgências no dia 30 do mesmo mês, “por ter dor e uma ferida no mesmo pé com sinais de necrose”.
“Ficou internado, sendo que realizou ecografia doppler arterial em 11 de Janeiro de 2023 (no internamento anterior), que não foi valorizada, mesmo estando descrita na nota de alta do primeiro internamento”, pode ler-se na denúncia.
Uma vez que o paciente se manteve internado com agravamento clínico, Diana Pereira pediu “uma tomografia computorizada com suplemento de contraste aos membros inferiores, em 2 de Fevereiro de 2023, que demonstrou extensa ateromatose calcificada difusa dos membros inferiores”. No entanto, o relatório “apenas foi validado e aprovado (…) depois do óbito do doente”.
O doente continuou internado até ser operado, a 5 de Fevereiro, por Diana Pereira, para amputação do pé esquerdo. Segundo a denunciante, esta cirurgia deveria ter sido feita logo aquando do primeiro internamento, e não um mês e cinco dias depois. O paciente acabou por falecer a 13 de Fevereiro, por agravamento clínico, “ainda internado no Hospital de Faro, a cargo da Equipa de Cirurgia”.
A 7 de Fevereiro deu entrada nas urgências um doente que ficou “internado por gangrena do membro inferior direito em pé diabético (…), com feridas infectadas e necrosadas”. Durante o internamento, e com “múltiplas tentativas da denunciante de saber quando iriam operar”, a equipa acabou por optar pela não operação do doente, apesar de o mesmo ter uma “suposta indicação para amputação” do pé direito.
O doente acabou por apanhar uma pneumonia, “após três dias no serviço de urgência, junto a outros doentes com múltiplas patologias”. Ficou muito debilitado e foi pedido “apoio aos cuidados paliativos para orientação de um doente aparentemente em fim de vida (quando havia sido internado para ser operado)”. Acabou por falecer a 7 de Março.
O terceiro caso refere-se a um doente que recorreu à urgência a 27 de Fevereiro, onde foi avaliado e internado para “revisão do coto de amputação, que apresentava exposição óssea”. No dia seguinte, a denunciante estava de urgência e tentou “por diversas ocasiões chamar a atenção dos especialistas para a necessidade de operar o senhor”. Tal só veio a acontecer seis dias depois.
Após a cirurgia, o doente “esteve sempre descompensado” e teve de ser assistido de urgência pela equipa de medicina interna “em diversas ocasiões”. Não resistiu e faleceu a 12 de Março, “com aparente quadro de choque séptico”.
O caso está a ser investigado pela Polícia Judiciária de Faro e pelo Ministério Público, e a queixa foi também enviada para o Ministério da Saúde.