Mark Rutte será o próximo secretário-geral da NATO e notabilizou-se como primeiro-ministro dos Países Baixos pela capacidade de criar consensos. Embora sem experiência na Defesa, é firme apoiante da causa da Ucrânia contra o invasor russo.

Natural de Haia, nos Países Baixos, vai encabeçar a NATO e ser o sucessor de Jens Stoltenberg, antigo primeiro-ministro da Noruega, depois de um longo processo de seleção. Mark Rutte é filho de Izaäk Rutte, empresário que trabalhou nas índias Orientais Holandesas, que abrangia todo o território da Indonésia, durante o período colonial neerlandês.

Na sua adolescência queria ser pianista e para isso ponderou frequentar um conservatório, mas acabou por estudar História na Universidade de Leiden, no sul dos Países Baixos, concluindo a sua formação em 1992. Durante o período académico, iniciou o contacto com a vida política e fez parte da direção da Organização da Juventude para a Liberdade e Democracia, a juventude partidária do Partido Popular para a Liberdade e Democracia (VDD).

Concluída a formação superior, Mark Rutte começou a trabalhar na multinacional Unilever, especificamente na subsidiária Calvé. No grupo empresarial ocupou funções de gestão do departamento de recursos humanos.

O percurso político começou realmente em 1993, quando entrou para a direção nacional do VDD. Dez anos mais tarde, em 2003, foi eleito deputado, mas exerceu funções apenas entre janeiro e maio desse ano. Entre julho de 2002 e junho de 2004 foi secretário de Estado no Ministério dos Assuntos Sociais e Emprego e nos dois anos seguintes foi secretário de Estado para o Ensino Superior e Ciência, regressando depois à vida parlamentar.

Foi eleito presidente do VDD a 31 de maio de 2006, mas perdeu as eleições legislativas desse ano, não conseguindo ir além dos 14,67% e dos 22 deputados. Quatro anos mais tarde, em 2010, o VDD venceu as eleições legislativas e conquistou 31 lugares no hemiciclo, tornando-se pela primeira vez o partido mais votado.

Mark Rutte cumpriu quatro mandatos consecutivos enquanto primeiro-ministro. Durante o último mandato, a credibilidade política de Rutte foi abalada pelo apelidado Nokiagate, quando foi descoberto que tinha apagado mensagens de um antigo telemóvel Nokia, violando a legislação sobre o arquivo de material que pode ser de interesse público.

Na altura, Mark Rutte alegou que apenas tinha apagado as mensagens por falta de memória do telemóvel, mas a sua posição ficou fragilizada na opinião pública, sendo acusado pela oposição de falhar uma das promessas eleitorais, que dizia respeito ao aumento da credibilidade dos decisores políticos e transparência.

Desde o início da invasão russa da Ucrânia que Rutte tem sido uma das vozes mais contundentes na condenação da intervenção militar do Kremlin e na necessidade de dar um apoio contínuo à Ucrânia. No entanto, no seu currículo não há passagens pelo Ministério da Defesa ou ligações à área da segurança. Só se pode imputar a Mark Rutte o esforço coletivo do seu governo para aumentar o investimento na área da Defesa, em linha com os objetivos traçados pelos Estados-membros da NATO. A previsão da Aliança Atlântica é de que este ano os Países Baixos atinjam o mínimo de 2% do PIB em despesas com Defesa.

Mas a força de Rutte está na sua capacidade negocial e em gerar consensos. Quatro mandatos consecutivos enquanto primeiro-ministro só foram possíveis com coligações, com partidos em algumas matérias diametralmente opostos. O último acordo de coligação só ruiu em 2023, por divergências sobre a política de migrações no país.

Ao nível da União Europeia, Mark Rutte também demonstrou ter capacidade para gerar consensos, sendo um dos negociadores ao nível do Conselho Europeu para defender as posições liberais – esteve até na conceção da proposta que inclui António Costa para presidente do próximo Conselho Europeu.