Apenas algumas dezenas de pessoas, mas indignadas com Emmanuel Macron pela demora na nomeação de novo governo, juntaram-se em Paris para pedir a destituição do presidente francês, numa manifestação convocada pelo partido de extrema-direita Os Patriotas.
“Queremos defender os valores da França e destituir Macron, que não representa a França há muito tempo”, disse à Lusa Jeremy, de 45 anos, acompanhado das suas filhas Eloise e Olivia, de 13 anos, que participaram na manifestação de forma efusiva.
Para Jeremy, Macron está a “destruir a França”, ao vender “grande parte da indústria” e ao provocar uma crise de liberdade no país, por não respeitar o povo.
“Precisamos realmente de uma união nacional, de um consórcio de ideias de políticos, mais do que um presidente sozinho para defender a França acima de tudo”, afirmou, acrescentando que “todos aqueles que estão lá agora têm de sair”.
Desde as eleições legislativas de 7 de julho que Macron não nomeou um novo primeiro-ministro, o que tem provocado indignação nos franceses, já que o escrutínio foi convocado pelo próprio.
Ao longo dos últimos dias, o presidente francês tem ouvido diferentes partidos, mas rejeitou o nome proposto pela Nova Frente Popular, que inclui a França Insubmissa e que venceu o escrutínio, à frente da União Nacional e da plataforma de apoio a Macron.
A França está neste momento a ser governada por Gabriel Attal, primeiro-ministro demissionário, que ficou no cargo a gerir assuntos correntes.
Na praça Denfert-Rochereau, em Paris, os manifestantes começaram a juntar-se por volta das 15h00 locais (menos uma hora em Lisboa), junto às tendas d’Os Patriotas e de um pequeno palco, com bandeiras e cartazes como “Pela soberania, parar Macron” e “Destituição”.
Para Anne Sophie, de 51 anos, “a maioria dos franceses estão contra a política de Macron”, porque o regime do presidente francês provocou um impasse por “fazer sempre o que quer com um governo demissionário” e, por isso, “uma destituição pode também indicar que o povo ainda existe”.
“Não há mais representação democrática, nós votamos coisas que não são constitucionais. Todas as nossas instituições estão a funcionar mal”, afirmou Anne Sophie à Lusa, criticando a aposta nos Jogos Olímpicos e no apoio à guerra, com o envio de armas para “matar pessoas”, quando os hospitais, as escolas e o setor dos transportes estão em crise.
“Há pessoas que morrem nas emergências, mas nós vamos investir biliões nos Jogos Olímpicos e ainda vamos perder biliões com os Jogos Olímpicos no inverno”, referiu.
No decorrer da manifestação, os membros do partido, fundado em 2017 por Florian Philippot, circulavam pelas pessoas a pedir doações e apelando também ao Frexit – acrónimo para a saída da França da União Europeia – e à prisão de Macron.
Stéphane, de 31 anos, militante do partido, apoia a “destituição, que pode estar em processo na Assembleia Nacional” e defende que “o problema da França, em 90%, é a União Europeia, por isso precisa de uma verdadeira força de resistência”.
“É preciso sempre pegar a oportunidade para tentar outra coisa. Por uma vez que há oposições que fazem o seu trabalho, é preciso apoiar essa busca” antes de adicionar mais reformas no Código do Trabalho, defendeu Stéphane à Lusa, referindo que “é preciso fazer tudo de novo, uma VI República, porque a V Republica foi corrompida por sucessivos presidentes”.
Durante a manifestação, os participantes, que assobiavam ao som do nome Macron, traziam também cartazes com frases como “Liberdade e verdade” e entoavam “destituição de Macron” e “resistência”.
Macron “fraturou a França e os franceses” e, por isso, “deve ir embora e um dia pode até terminar na prisão”, disse à Lusa Jacques Deseau, de 70 anos, que defende que “tudo o que Macron faz é anticonstitucional”.
“O que seria necessário para a França, na medida em que ele destruiu tudo é fazer uma união nacional de todos os partidos políticos. É a única solução pacífica pela qual podemos sair dessa crise”, afirmou Jacques Deseau.