Emmanuel Macron rejeitou um governo “unicamente” da coligação de esquerda Nova Frente Popular, alegando a necessidade de “estabilidade institucional” do país, e anunciou novas consultas a partir desta terça-feira.

“O Presidente da República constatou que um governo baseado unicamente no programa e nos partidos propostos pela aliança com mais deputados, a Nova Frente Popular, seria imediatamente censurado por todos os grupos representados na Assembleia Nacional”, anunciou o Eliseu em comunicado.

Na sequência de uma primeira série de consultas desde sexta-feira com os representantes dos partidos políticos, Macron adiantou ter decidido não optar por um governo apenas da Nova Frente Popular para manter a “estabilidade institucional” do país.

Macron exortou ainda os socialistas, os ecologistas e os comunistas a “cooperarem com as outras forças políticas”, sem nomear a França Insubmissa, com quem formaram a aliança de esquerda Nova Frente Popular, elegendo o maior número de deputados nas eleições legislativas, longe de uma maioria absoluta na Assembleia Nacional.

“Os partidos políticos do governo não devem esquecer as circunstâncias excecionais da eleição dos seus deputados na segunda volta das eleições legislativas” de 7 de julho, afirmou Macron, apelando “a todos os líderes políticos para estarem à altura da ocasião, demonstrando um espírito de responsabilidade”.

O líder da França Insubmissa, Manuel Bompard, denunciou imediatamente “uma inaceitável tomada de poder antidemocrática” por parte de Macron, numa entrevista ao canal de televisão BFMTV.

“Se houver outra coligação possível que tenha maioria na Assembleia Nacional, o Presidente da República que nos diga qual”, afirmou o deputado, reiterando a ameaça de um eventual processo de destituição do chefe de Estado por “usurpar os poderes que lhe pertencem”.

A França Insubmissa, enquanto maior força política no seio da Nova Frente Popular, tem sido contestada por todos os partidos da oposição, que consideram que o seu programa pode desestabilizar o país e veem uma figura muito divisiva em Jean-Luc Mélenchon, seu fundador, que pode assumir um lugar de liderança no governo.

Os líderes da Nova Frente Popular anunciaram, numa declaração conjunta, que só voltariam ao Eliseu para discutir um governo de coabitação com Lucie Castets como primeira-ministra.

“O Presidente da República deve agora agir e nomear Lucie Castets”, afirmaram os representantes dos quatro partidos da aliança, três dias depois de reunirem com Macron, referindo que o presidente francês continua a “procrastinar” na nomeação de um primeiro-ministro.

Macron vai lançar, esta terça-feira, “uma nova ronda de consultas” para encontrar um primeiro-ministro, com os líderes dos partidos e “personalidades que se distinguem pela sua experiência ao serviço do Estado e da República”.

Apesar da primeira ronda de consultas não ter permitido encontrar um nome para substituir Gabriel Attal, primeiro-ministro macronista demissionário, o presidente francês garantiu que a sua “responsabilidade é fazer com que o país não fique bloqueado nem enfraquecido”.