João Lourenço critica falta de vacinas em África
O presidente angolano criticou na ONU a aceleração dos programas de vacinação nos países ricos, considerando “chocante constatar-se a disparidade existente entre umas nações e outras”.
O presidente angolano, João Lourenço, fez duras críticas à forma como estão a ser distribuídas a nível mundial as vacinas contra a Covid-19. Na sua intervenção na Assembleia Geral das Nações Unidas, o líder de Angola sublinhou que os países ricos estão a expandir os seus programas de vacinação, enquanto em grande parte do planeta a população continua desprotegida.
“É chocante constatar-se a disparidade existente entre umas nações e outras, no que respeita à disponibilidade de vacinas, pois estas diferenças permitem em alguns casos administrarem já terceiras doses, enquanto noutros, como ocorre em África, a larga maioria das populações não está vacinada sequer com a primeira dose”, disse João Lourenço.
O problema levantado pelo presidente angolano é visível nos números da vacinação. A indústria farmacêutica já conseguiu produzir 6 mil milhões de vacinas, o que equivale a 79 doses por 100 habitantes do planeta. Este valor parece positivo, mas esconde um mundo a duas velocidades. Nos Estados Unidos da América, por exemplo, foram já administradas 387 milhões de doses, numa proporção de 117 por cada 100 habitantes. Já se fala na terceira dose. Portugal, um dos países mais vacinados do planeta, tem 155 doses por 100 habitantes.
O contraste com África é evidente. Em Angola foram administradas 2,8 milhões de doses, o que dá apenas 8,9 por 100 habitantes, valor que apesar de tudo está entre os melhores de África. Países como Nigéria ou Etiópia registam 3 doses por 100 habitantes e a República Democrática do Congo ainda não passou dos 0,2 por 100 habitantes.
No discurso na Assembleia Geral da ONU, o presidente angolano alertou para a questão da distribuição das vacinas e para a interdependência entre todos os países nesta pandemia. “A vacina da Covid-19 deve ser reconhecida como um bem da humanidade, de acesso universal e aberto para permitir uma maior produção e distribuição equitativa à escala mundial”, disse o presidente angolano.
João Lourenço falou também da necessidade de ajudar economicamente os países atingidos pelos efeitos económicos da pandemia. O presidente referiu-se ao “alívio” de responsabilidades financeiras perante credores, reconheceu que Angola tem alguma capacidade para fazer face às suas “enormes e múltiplas necessidades” económicas, mas também pediu que fossem encontradas soluções duradouras “que sirvam de base à reconstrução das economias mais severamente afetadas pela crise sanitária mundial”.
O presidente angolano concluiu a sua intervenção nas Nações Unidas com uma referência aos esforços do seu país na mediação dos conflitos da África Central e região dos Grandes Lagos e uma crítica aos recentes golpes militares do Mali e Guiné Conacri.