Depois de, até 2022, Portugal ter verificado um nível baixo de insolvências, com menos de dois mil casos por ano, as perturbações comerciais e a incerteza geopolítica podem levar a que o número de falências empresariais aumente 19% em 2024, verificando-se uma desaceleração de 10% no próximo ano. Estas são as estimativas apontadas no mais recente relatório global de insolvências da Allianz Trade.

Entre os sectores mais afetados em Portugal para 2024, destacam-se neste documento os serviços, a construção, o retalho e os têxteis, que em conjunto deverão representar 60% das insolvências no país.

“Em comparação com os níveis de 2016-2019 é possível perceber que, entre 2020 e 2022, as medidas de apoio pouparam o equivalente a três quartos das insolvências em países como os EUA, a Alemanha, a Áustria, a Noruega, Portugal e a Nova Zelândia”, pode ler-se no relatório, sendo que as insolvências observadas entre 2020 e 2022 foram reduzidas em vários países devido aos apoios do Estado às empresas no cenário de pandemia de covid-19.

A seguradora aponta que os sectores e empresas mais expostos aos riscos de uma procura mais fraca, por mais tempo, e com custos de financiamento elevados e prolongados são aquelas que dependem de despesas discricionárias (fábricas e venda a retalho de bens não essenciais, hotéis, restaurantes, turismo e outras atividades de lazer), bem como de mão-de-obra intensiva (construção, transporte rodoviário, hotelaria, restauração, cuidados de saúde, serviços empresariais específicos).

Empresas vivem maiores dificuldades
A comprovar todo este cenário surgem também os dados da Iberinform, que revelam que só nos primeiros dois meses de 2024 o número de insolvências observou um aumento de 50% em Portugal, para um total de 882, uma subida de 272 registos face ao mesmo período de 2023.

Lisboa e Porto foram os distritos que apresentaram o valor absoluto mais elevado, com 190 e 227 insolvências, respetivamente. Em relação ao ano passado verificou-se um crescimento de 47% em Lisboa e de 122% no Porto.

Além das duas principais capitais de distrito, Bragança e Castelo Branco (400%), Ponta Delgada (150%), Beja (100%), Vila Real (100%), Viseu (63%), Braga (56%), Faro (39%), Angra do Heroísmo e Santarém (ambos com aumentos de 33%), Coimbra (16%), Setúbal (15%) e Aveiro (7,1%) registaram subidas durante este período.

Em relação aos sectores mais afetados, as maiores subidas foram apresentadas na eletricidade, gás e água (100%), telecomunicações (100%), indústria transformadora (84%), hotelaria e restauração (65%), outros serviços (57%), comércio a retalho (39%), comércio de veículos (39%), transportes (35%), construção e obras públicas (32%) e comércio por grosso (25%).

Em sentido inverso, a agricultura, caça e pesca e a indústria extrativa tiveram uma variação negativa, registando descidas de 46% e 100%, respetivamente.

Trabalhadores em layoff triplicaram em janeiro
O número de trabalhadores em situação de layoff triplicou a nível homólogo em janeiro, para 10.890 pessoas, segundo os dados do Gabinete de Estratégia e Planeamento (GEP) do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social (MTSSS).

Ainda assim, este número fica abaixo do pico verificado em novembro do ano passado, uma altura em que o número de trabalhadores em layoff foi de 15.760.

Em termos mensais, verificou-se um crescimento de 1.108 prestações de layoff e, em comparação com o mês homólogo, foi observado um aumento de 7.417 prestações processadas.

Artigo publicado na edição do NOVO de dia 9 de março