O povo indígena tupinambá celebrou o regresso de um manto sagrado, um dos seus maiores símbolos espirituais, que regressou ao Brasil depois de mais de três séculos na Europa.
“O seu regresso é o início de uma nova história de conquista para os povos indígenas”, afirmou Lula da Silva, na quinta-feira, durante a apresentação oficial no Museu Nacional, no Rio de Janeiro. Além do presidente brasileiro e da primeira-dama, Janja da Silva, o evento contou com a presença de membros da etnia tupinambá; de Sónia Guajajara, ministra dos Povos Indígenas; e de representantes de governos regionais.
Para os tupinambá, a chegada do manto a solo brasileiro é de “extrema importância” e, por isso, cerca de 170 indígenas marcaram presença no museu no Rio de Janeiro.
O manto tem sido homenageado desde o fim de semana com cantos, rezas, vigílias, fogueiras e conferências. O evento foi ainda marcado por protestos do povo originário, por não poderem ter o manto nas suas terras.
Desde 4 de julho, quando desembarcou no Brasil, o manto tem sido mantido em condições específicas de conservação no Museu Nacional, onde vai permanecer. No entanto, no evento, lideranças da etnia disseram que o processo não foi transparente e que lhes foi negado o direito de receber o manto no dia em que desembarcou no Brasil. Acrescentaram que vão continuar a lutar até ser devolvido à terra a que pertence.
“O nosso património não está a ser tratado com o devido respeito, porque somos os verdadeiros herdeiros do manto sagrado”, disse a cacica Yakuy Tupinambá.
O manto ancestral foi repatriado da Dinamarca, onde se encontrava desde 1689. A imponente peça, com 1,20 metros de altura e 80 centímetros de largura, foi confecionada principalmente com penas da íbis-vermelha – ave também conhecida como garça-vermelha ou guará –, mas também com penas de papagaios e araras azuis e amarelas. A sua origem remonta ao século XVI e foi trazido para a Europa pelos holandeses por volta de 1644.
O manto é um símbolo de poder espiritual, que representa a identidade da etnia tupinambá e a ligação à sua ancestralidade. Era utilizado exclusivamente em cerimónias rituais pelos mais sábios do povo tupinambá e é o único do género que regressou a solo brasileiro. Outros dez exemplares ainda estão em museus europeus.
Acredita-se que vários foram enviados para a Europa por missionários jesuítas e outros foram obtidos como espólio de guerra ou comercializados com os indígenas.