O ministro dos Negócios Estrangeiros da Hungria, Péter Szijjártó, acusou hoje a Comissão Europeia de orquestrar a interrupção do fornecimento de petróleo russo para o bloco através da Ucrânia e alertou que a disputa pode implicar uma crise energética.
O governo de Kiev aplicou sanções, em junho, contra a Lukoil, a maior empresa petrolífera não estatal, que impedem o trânsito de petróleo através do oleoduto Druzhba (Amizade) proveniente da Ucrânia e dirigido à Hungria e Eslováquia. A Hungria recebe a maioria do seu petróleo da Rússia, cerca de metade proveniente da Lukoil.
A decisão suscitou fortes protestos de responsáveis eslovacos e húngaros, ao alegarem que o bloqueio poderá interferir na sua segurança energética. Os dois países ameaçaram uma ação judicial contra Kiev, caso a Lukoil não seja autorizada a retomar as suas entregas.
Na terça-feira, numa mensagem publicada no Facebook, Szijjártó emitiu duras críticas ao órgão executivo da União Europeia, ao considerar que “nada fez” desde que Budapeste a Bratislava pediram que interviesse neste contencioso em torno da entrega de crude.
“Apesar das ameaças à segurança energética de dois Estados-membros da União Europeia… Bruxelas permanece em silêncio”, escreveu Szijjártó, para acrescentar que a Comissão Europeia ou revela demasiada “fraqueza” para proteger os interesses da Eslováquia e Hungria, ou “foi Bruxelas, e não Kiev, quem inventou tudo isto”.
“A Comissão Europeia, e a presidente Ursula von der Leyen pessoalmente, devem clarificar de imediato: Bruxelas pediu a Kiev para proibir os fornecimentos de petróleo?”, assinalou ainda Szijjártó. “Se não foi, por que motivo a Comissão Europeia não adotou qualquer medida em mais de uma semana?”.
Previamente, o chefe da diplomacia húngara também tinha admitido que o bloqueio das transferências da Lukoil através da Ucrânia constituíam uma “chantagem” devido às posições da Hungria, que defende um cessar-fogo imediato e conversações de paz entre Moscovo e Kiev, uma posição criticada por diversos líderes da União Europeia e da NATO, que a classificaram de estratégia de apaziguamento face à Rússia, apesar da sua invasão militar.
O governo soberanista conservador da Hungria, liderado pelo primeiro-ministro Viktor Orbán, é considerado o parceiro da UE mais próximo do Kremlin e tem-se recusado a fornecer armamento a Kiev na sequência da invasão militar russa em larga escala em fevereiro de 2022, mantendo um delicado jogo de equilíbrio com Bruxelas.
A União Europeia impôs, em 2022, sanções à importação de petróleo russo para o bloco comunitário na sequência da invasão militar, mas concedeu uma exceção à Hungria, Eslováquia e República Checa, até garantirem novas fontes de importação. A ofensiva militar russa no território ucraniano, lançada a 24 de fevereiro de 2022, mergulhou a Europa naquela que é considerada a crise de segurança mais grave desde a Segunda Guerra Mundial.
A Ucrânia tem contado com ajuda financeira e em armamento dos aliados ocidentais, que também têm decretado sanções contra setores-chave da economia russa para tentar diminuir a capacidade de Moscovo de financiar o esforço de guerra.
Os últimos meses foram marcados por ataques aéreos em grande escala da Rússia contra cidades e infraestruturas ucranianas, ao passo que as forças de Kiev têm visado alvos em território russo próximos da fronteira e na península da Crimeia, ilegalmente anexada em 2014.
Já no terceiro ano de guerra, as Forças Armadas ucranianas têm-se confrontado com falta de soldados e de armamento e munições, apesar das reiteradas promessas de ajuda dos aliados ocidentais, que começaram entretanto a concretizar-se.