A Humanidade esgota, esta quinta-feira, os recursos do planeta disponíveis para este ano, começando a consumir recursos de 2025, alerta a organização internacional Global Footprint Network. O chamado Dia da Sobrecarga do Planeta significa que a procura da Humanidade por recursos naturais ultrapassa a capacidade do planeta de regenerá-los, pelo que a partir de quinta-feira os humanos vivem “a crédito”.
Segundo os cálculos da organização internacional de sustentabilidade, pioneira da pegada ecológica, a Humanidade está a utilizar a natureza 1,7 vezes mais depressa do que os ecossistemas do planeta conseguem regenerar.
A utilização excessiva de recursos compromete os oceanos, leva à desflorestação, à erosão dos solos, à perda de biodiversidade e ao aumento de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, responsável pelo aquecimento global, que provoca fenómenos meteorológicos extremos e o aumento da insegurança alimentar, alerta a organização.
O indicador da pegada ecológica começou a ser feito em 1971, quando os recursos davam para praticamente o ano inteiro. A partir de 1984 os recursos já só chegavam a novembro e em 1993 apenas até outubro. Desde esse ano a Humanidade consumiu cada vez mais recursos, com apenas uma ligeira quebra de consumo em 2020, explicada pela pandemia.
Este ano, o dia 1 de agosto, um dia antes de 2023, é um recorde.
A reparação de produtos em vez de comprar novos é uma das formas de diminuir o consumo e uma diretiva nesse sentido entrou hoje em vigor na União Europeia, com os Estados a terem de transpô-la para a legislação nacional até 2026.
A lei implica que os fabricantes de produtos como frigoríficos ou smartphones sejam obrigados a oferecer serviços de reparação atempada a um preço razoável e a fornecer peças sobresselentes.
A refurbed, plataforma de produtos recondicionados, cita, em comunicado, dados das Nações Unidas que indicam que a produção mundial de resíduos eletrónicos atingiu 62 milhões de toneladas em 2022, mais 82% do que em 2010, das quais 4,6 milhões de toneladas dizem respeito a pequenos equipamentos como computadores portáteis ou telemóveis entre os produtos mais vendidos na refurbed.
O recondicionamento de aparelhos eletrónicos poupa em média 83% de CO2, 89% de água e 77% de resíduos, comparando a novos produtos.
Se todos os resíduos eletrónicos fossem reciclados ou reutilizados podia atrasar-se o Dia da Sobrecarga do Planeta em aproximadamente quatro dias, diz ainda a plataforma, acrescentando que, se cinco em cada 10 smartphones vendidos em Portugal fossem recondicionados poupar-se-ia o equivalente a um dia de emissões de CO2 no país.
A plataforma apela à ação contra o desperdício de recursos eletrónicos, diz que em média cada pessoa guarda em casa 2,72 smartphones antigos, que são um enorme desperdício de recursos valiosos, e defende uma mudança no estilo de vida para uma economia mais circular.
Nos dados da Global Footprint Network, Portugal esgotou os seus próprios recursos muito mais cedo, este ano a 28 de maio. Desde então os portugueses estão a consumir recursos que só deveriam usar em 2025. Segundo os números, se cada pessoa no planeta vivesse como uma pessoa média portuguesa, a Humanidade exigiria cerca de 2,9 planetas para sustentar a sua utilização de recursos.
Cada português pode fazer recuar mais o dia em que se esgotam os recursos se reduzir o consumo de proteína animal (atualmente consome três vezes mais do que era desejável), se privilegiar os transportes coletivos e a mobilidade suave, e se consumir de forma mais circular, tendo menos e de melhor qualidade em vez do comum usar e deitar fora, alertou na altura a associação ambientalista Zero.
A Pegada Ecológica avalia as necessidades humanas de recursos renováveis e serviços essenciais e compara-as com a capacidade da Terra para fornecer tais recursos e serviços (biocapacidade).
No cálculo para determinar o dia da sobrecarga do planeta a Global Footprint Network colocou a União Europeia a esgotar os recursos que lhe eram destinados ainda mais cedo, logo a 3 de maio.
O país que primeiro esgotou os recursos foi o Catar, logo em 11 de fevereiro, seguindo-se o Luxemburgo, no dia 20, os Emirados Árabes Unidos, em 4 de março, e os Estados Unidos, em 14 de março. Os últimos países a esgotar os seus recursos serão o Equador e a Indonésia, a 24 de novembro, o Iraque a 15 e a Jamaica a 12.