O secretário-geral da ONU, António Guterres, exigiu esta segunda-feira a Israel e à comunidade internacional que atuem de imediato perante os alarmantes níveis de fome generalizada em Gaza para “prevenir o impensável, inaceitável e injustificável”.
Guterres emitiu uma breve declaração à entrada do Conselho de Segurança, após a divulgação do relatório da iniciativa mundial de Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar (IPC), em que se alerta que 1,1 milhões de pessoas estão num nível de “insegurança alimentar catastrófica”, considerado o mais grave.
O secretário-geral sublinhou que este número, de acordo com este sistema de medição da ONU, é “o mais elevado registado em qualquer parte” em termos de nível catastrófico de fome e acrescentou tratar-se de “um desastre provocado pela intervenção humana, e pode terminar”.
Os palestinianos de Gaza “sofrem níveis aterradores de fome e sofrimento”, insistiu Guterres, antes de voltar a apelar a um cessar-fogo e à entrada por via terrestre de ajuda humanitária.
“Apelo às autoridades israelitas que garantam um acesso completo e sem restrições aos bens humanitários em direção a Gaza, e à comunidade internacional que apoie totalmente os nossos esforços humanitários”, insistiu Guterres.
O Conselho de Segurança da ONU tem sido incapaz de aprovar por unanimidade uma declaração de cessar-fogo, após os Estados Unidos terem vetado por três vezes as declarações nesse sentido, ao argumentarem que um fim das hostilidades permitiria o rearmamento e a reorganização do Hamas.
Os Estados Unidos fizeram circular um texto alternativo que prevê um cessar-fogo temporário e condicionado à entrega dos reféns pelo Hamas, mas o texto circula há um mês entre os Estados-membros do Conselho de Segurança sem obter consenso.
O conflito em curso entre Israel e o Hamas, que desde 2007 governa na Faixa de Gaza, foi desencadeado pelo ataque do movimento islamista em território israelita, em 7 de outubro.
Nesse dia, 1.139 pessoas foram mortas, na sua maioria civis, mas também perto de 400 militares, segundo os últimos números oficiais israelitas. Cerca de 240 civis e militares foram sequestrados, com Israel a indicar que mais de 120 permanecem na Faixa de Gaza.
Em retaliação, Israel, que prometeu destruir o movimento islamista palestiniano, bombardeia desde então a Faixa de Gaza, onde, segundo o governo local, liderado pelo Hamas, já foram mortas pelo menos 31.700 pessoas – na maioria mulheres, crianças e adolescentes – e feridas mais de 70 mil, também maioritariamente civis.
As agências da ONU indicam ainda que pelo menos 160 funcionários foram mortos em Gaza desde 7 de outubro.
A ofensiva israelita também tem destruído a maioria das infraestruturas de Gaza e perto de 2 milhões de pessoas foram forçadas a abandonar as suas casas, a quase totalidade dos 2,3 milhões de habitantes do enclave.
A população da Faixa de Gaza também se confronta com uma crise humanitária sem precedentes devido ao colapso dos hospitais, ao surto de epidemias e à escassez de água potável, alimentos, medicamentos e eletricidade.
Desde 7 de outubro, pelo menos 418 palestinianos também já foram mortos pelo Exército israelita e por ataques de colonos na Cisjordânia e Jerusalém Leste, territórios ocupados pelo Estado judaico, além de se terem registado perto de 7 mil detenções e mais de 3 mil feridos.