Greve dupla em Hollywood pára a indústria

Actores avançam para a greve e somam-se à paralisação dos argumentistas, complicando a vida da indústria. É a primeira dupla greve em 60 anos

Longe da sua era dourada, Hollywood está a viver novamente um momento que aconteceu pela última vez em 1960, mas pelos piores motivos: há uma dupla greve na indústria do entretenimento, com os actores a juntarem-se aos argumentistas. O sindicato dos actores de Hollywood, o Screen Actors Guild – American Federation of Television and Radio Artists (SAG-AFTRA) anunciou, a 13 de Julho, a esperada decisão de avançar para a greve. A associação representa 160 mil artistas do cinema e da televisão e decretou a greve após terem caído por terra as negociações com os estúdios.

A presidente do sindicato, Fran Drescher, defendeu que os actores não tiveram escolha e apontou o dedo à Alliance of Motion Picture and Television Producers (AMPTP), a organização que representa os grandes estúdios e as plataformas de Hollywood. “Estamos a ser vítimas de uma entidade muito gananciosa. Estou chocada com a forma como as pessoas com quem trabalhamos nos estão a tratar”, disse, acrescentando que este era o momento certo para convocar a greve. “Se não fizermos isto agora, vamos ficar todos em apuros.” Tal como os argumentistas, que estão em greve desde 2 de Maio, também o sindicato dos actores reivindica o aumento dos salários para responder à inflação, quer a subida do valor dos “resíduos”, que diz respeito ao pagamento sempre que um programa ou filme passa na televisão (as plataformas de streaming não divulgam os números de exibição dos conteúdos que disponibilizam) e quer ter garantias relativamente à forma como a inteligência artificial é aplicada.

Em resposta ao anúncio da greve, a AMPTP sublinhou que o sindicato “escolheu, lamentavelmente, um caminho que vai levar a dificuldades financeiras para milhares de pessoas que dependem da indústria”. Ainda antes de a greve ser oficialmente anunciada, já Bob Iger, o CEO da Disney, criticava os sindicatos dos actores e dos argumentistas, descrevendo as suas exigências como “irrealistas”, numa entrevista à CNBC.

A greve dos actores vem, assim, agravar ainda mais os problemas, porque, com a greve dos argumentistas, muitas produções já estavam paradas ou, pelo menos, a ser afectadas. Agora, a paralisação será total. Dificilmente as televisões e as plataformas de streaming vão conseguir preencher as suas necessidades de conteúdos até que ambas as greves terminem, como realça a Variety. É claro que há excepções. A série da HBO “House of the Dragon”, uma das suas grandes apostas, vai continuar em produção. Além das produções, a greve vai impactar a promoção dos filmes e séries que já estão concluídos. Exemplo disso foi o que aconteceu esta quinta-feira, em Londres, durante a antestreia de “Oppenheimer”. Actores como Cillian Murphy, Emily Blunt ou Matt Damon estiveram brevemente na passadeira vermelha, mas já não assistiram à antestreia do filme. O mesmo vai acontecer em eventos de grande dimensão, como a Comic-Con de San Diego. Os estúdios já indicaram que não vão ter uma presença em grande escala na convenção. Problemas à vista em LaLaLand.