Os Glockenwise sobem esta tarde ao palco Lisboa do MEO Kalorama, onde vão apresentar temas de Gótico Português, álbum lançado no ano passado, sem esquecer os temas mais antigos. Nuno Rodrigues e Rafael Ferreira estiveram à conversa com o NOVO antes do concerto e explicaram um pouco o que os inspirou neste trabalho e contaram o que esperam para a atuação desta tarde.
Têm estado a apresentar o Gótico Português, álbum que lançaram o ano passado. Como é que o público tem recebido este trabalho?
Nuno Rodrigues: Olha, acho que, dos discos todos que lançámos, foi o que ressoou de forma mais forte com o público. A prova disso é a adesão que temos tido nos concertos… Nós somos uma banda independente, estamos habituados a um circuito com expectativas de público sempre muito baixas em Portugal e as coisas têm corrido de outra maneira para nós. Temos sentido que as pessoas se identificam com aquilo que estamos a dizer, que é talvez o mais importante.
Rafael Ferreira: Subscrevo aquilo que está a dizer. De todos os discos que fizémos até agora, este foi o que teve uma reação maior e se calhar, de certa forma, também mais unânime. Acho que conseguimos chegar a mais gente e fazer com que o público que temos habitualmente fosse crescendo.
Porquê este nome para o disco? O gótico é uma corrente artística e arquitectónica, mas também tem um estilo musicalmente diferente do vosso…
Rafael Ferreira: Essa é uma pergunta muito alargada. Precisávamos de fazer um perfil, em vez de uma entrevista… (risos) O Gótico Português é uma referência a várias coisas, nomeadamente a uma ideia de margem e de marginalidade do território e das pessoas fora dos grandes centros ou fora de uma maneira mais estandardizada de viver. Nós conhecemos e vivemos um pouco esse universo e essa fantasia ou essa estranheza que existe na margem associamos um pouco aquela ideia do American Gothic e, portanto, do sul americano e de algum cruzamento com a metafísica também. Portanto, há um pano aqui com uma ideia de gótico português enquanto resposta a esse gótico americano e, por outro lado, também uma piada com o gótico enquanto género musical… Nós não somos uma banda de gótico, mas temos claramente bastantes referências. Portanto, mistura um pouco estas vias todas e formaram este nome.
Nuno Rodrigues: É um bocado o que o Nuno estava a dizer. Esta parte mais musical onde nós de facto vamos buscar algumas referências britânicas deste movimento gótico. Vamos buscar algumas coisas aos The Cure, esse movimento mais relacionado com os anos 1980.
Acaba por ser aqui um estilo um pouco diferente do Plástico, o primeiro disco que fizeram em português…
Nuno Rodrigues: É um bocadinho uma continuação do anterior, na verdade. Há talvez alguma dificuldade em separar as coisas umas das outras, porque, como estamos sempre a tocar e ensaiar, os processos vão-se misturando e é difícil perceber onde é que um tema acabou e o outro começou, a não ser por esta questão forçada de que a música funciona à volta de discos e temos que separá-lo. Mas, sim, diria que que há claras mudanças em termos da abordagem. Não diria muito a nível estético, mas talvez ao nível discursivo.
Como foi o processo de evolução de um álbum para o outro?
Nuno Rodrigues: No Plástico há temas que já advinham o que o próximo disco poderia ser. Embora seja uma abordagem diferente, com uma estética se calhar não totalmente diferente, mas que se foca em aspectos diferentes, mas que acaba por ser uma continuação daquilo que nós temos vindo a fazer. E prova disso acabam por ser os concertos ao vivo, onde misturamos músicas dos dois discos e que se correlacionam.
Porque decidiram começar a cantar em português?
Nuno Rodrigues: Estas perguntas… Vocês não querem mesmo facilitar! (risos)
Rafael Ferreira: Nós crescemos num contexto em que a música se fazia em inglês e as nossas influências eram em inglês, mas, com o passar do tempo, vais mudando a tua perspetiva sobre isto e vais questionando o que fazes e porque fazes de certa forma e começas a ver a oportunidade noutras coisas. No nosso caso foi sobretudo uma oportunidade lírica de achar que se calhar conseguíamos traduzir melhor aquilo que sentíamos e aquilo que pretendíamos expressar através da nossa música em português, que é a nossa língua, do que em inglês. Há um zilião de coisas que contribuíram para chegar este a este ponto, mas, resposta simples, é isto.
Esta passagem para português acabou por dar aso à colaboração com o Rui Reininho, que é um ídolo vosso…
Nuno Rodrigues: Ídolo é complicado, é difícil. Nós temos 30 e alguns anos, mais do que gostaríamos de admitir…. Tu não podes conhecer um ídolo. Quer dizer, nós conhecemos o Rui Reininho e adoramos o Rui, é um gajo mesmo formidável, mas não sei… Os ídolos são assim uma coisa meio pueril. No nosso caso é respeito pelo que se fez e pelo que ele fez. No caso do Rui, ainda por cima foi uma coisa que nós queríamos fazer quando a música saiu no Heat, que ainda era um disco em inglês. Portanto, fez todo o sentido depois fazer esta conversão para o português.
Foi uma boa decisão, então, passar pelo português?
Nuno Rodrigues: (risos) Se achasse que tinha sido a decisão estava tramado, porque nós já nos metemos nisto há uns anos. Sim, acho que foi uma boa decisão em termos de português, porque fizemos exactamente aquilo que nos apetecia. Quando tu fazes aquilo que te apetece, é sempre uma boa decisão.
Rafael Ferreira: Ser uma boa ou má decisão não é o mais importante, foi o que nós quisemos fazer. Agora o tempo fará o seu julgamento, que é o que faz melhor, aí haverá certamente alguém a achar ou a dizer que tomámos uma boa ou má decisão. Mas nós fizemos aquilo que queremos fazer. Isso é o mais importante.
O que esperam do concerto desta tarde?
Nuno Rodrigues: Esperemos que corra bem, que não haja problemas e que as pessoas gostem muito (risos) Tivemos a sorte de entrar neste circuito de festivais desde muito cedo, desde o primeiro disco. Já fizemos isto várias vezes, por isso não tem muito a ver como uma questão de expectativas. Tem mais a ver com o facto de gostarmos muito de tocar ao vivo e de estarmos contentes com isso. Já tocámos em contextos semelhantes a este, com muito pouca gente, e lidamos bem com o que nos o contexto que que nos calhar.
Rafael Ferreira: Esperamos que as pessoas saiam surpreendidas.
O que querem muito ver?
Nuno Rodrigues: Vários!
Rafael Ferreira: Desde logo os LCD Soundsystem, não é?, que é uma banda assim basilar na cena indie e que agora já não é bem indie…
Nuno Rodrigues: Mas estava lá na génese…
Rafael Ferreira: Também os Postal Service, que são também uma banda muito importante para uma geração…
Nuno Rodrigues: Ontem gostávamos de ter visto os Massive Attack, infelizmente não estávamos cá.
Rafael Ferreira: Continua a ser uma banda super atual, com muita coisa a dizer e coisas importantes a dizer. Depois há uma série de concertos… Jungle vêm cá muitas vezes e é sempre um concerto divertido.
Nuno Rodrigues: Há uma banda nova, uns miúdos, acho que são ingleses, os English Teacher, também temos curiosidade para ver. E depois há os nossos colegas portugueses, os Unsafe Space Garden, que estão dão sempre conscerto bons e vivem perto de nós. Estamos muito contentes de os ter cá…
Acabam por também estar à espera de descobrir coisas novas?
Nuno Rodrigues: Estes festivais não têm essa vocação tanto de descoberta, eu acho… Acho que são boas oportunidades para ver grandes artistas, que normalmente não poderíamos ver, porque, infelizmente, não há cultura de circulação de concertos. Todos os artistas grandes ou históricos ou importantes, tens inevitavelmente que os ver nos festivais. Diria que é mais uma oportunidade para concentrar assim bons artistas do que uma coisa de descoberta.
Editado por João G. Oliveira