O evento surgiu em 2014, depois de Joaquim Guerreiro – co-fundador do festival, entretanto falecido – ter convidado Vasco Sacramento para visitar o centro histórico de Faro para ali organizar um festival. A parceria já existia desde os tempos do Festival Med, em Loulé, e o potencial da vila adentro de Faro não podia ser desperdiçado.

“É um recinto que está naturalmente amuralhado, quase que é um recinto natural para eventos, e conjuga ali três tipos de património que, para nós, são fundamentais: o património histórico, porque estão ali os principais edifícios e atrações turísticas da cidade de Faro: a Sé de Faro, a Muralha, o Seminário, a Câmara Municipal, etc.; o património industrial, porque está ali a antiga Fábrica da Central de Cervejas e outros edifícios industriais interessantes; e o património natural, porque estamos paredes meias com a Ria de Faro… Tudo isso fez com que tivéssemos querido avançar com este festival”, recorda Vasco Sacramento, diretor do Festival F, à conversa com o NOVO.

Desde 2014 que o festival cresceu para fora das muralhas do centro histórico da capital algarvia, à medida que foi atingindo os objetivos originalmente traçados: “Começámos por ocupar cerca de um terço da vila adentro, que é a zona histórica de Faro, e neste momento ocupamos a vila toda e já saímos para fora da muralha. O palco principal está situado fora da muralha e muitos dos objetivos principais com que o festival foi criado estão atingidos ou têm sido atingidos ao longo dos anos”, explica Vasco Sacramento.

Que objetivos são esses? Essencialmente dois – a promoção da vila adentro e da música portuguesa –, atingidos “sempre com assinalável sucesso”, o que tem motivado a organização a continuar o bom trabalho.

A vila histórica de Faro tem muito para oferecer a quem visita o festival e a cidade e isso reflete-se na oferta, que vai muito para além da música, como explica Vasco Sacramento: “Temos bastantes atividades para além da música! Temos exposições, muita animação de rua, tertúlias, sessões de DJing, artesanato… Há sempre muita coisa para fazer para além da música. Como as pessoas vão passeando e descobrindo a vila adentro, há sempre qualquer coisa a acontecer em qualquer rua, em qualquer beco, em qualquer canto da cidade velha. Está sempre alguma coisa a acontecer”.

Do lado da música, a opção por só ter música portuguesa ou lusófona prende-se com a quantidade e qualidade do trabalho dos artistas convidados para o festival, além da ligação ao próprio espaço que acolhe o evento.

“Sentimos que havia espaço para haver um evento só de música portuguesa”, lembra Vasco Sacramento. “O próprio facto de o festival ocorrer no centro histórico de Faro, que é um local tão emblemático, há ali tanto património e tanta história… a ligação à portugalidade fazia sentido. Foi essa a base que nos norteou até agora e tem sido sempre esse o mote do festival. Não só música portuguesa, mas também música lusófona”.

Dificuldades iniciais

Apesar do sucesso de que o festival hoje goza, o evento era, inicialmente, olhado de lado pelos moradores e comerciantes do centro histórico de Faro: “O primeiro desafio, nas primeiras edições, foi, obviamente, convencer os residentes – porque há pessoas que moram dentro das muralhas e dentro da vila – e os comerciantes que o festival acabaria por ser bom para todos. Assim foi”, recorda Vasco Sacramento. Tanto foi assim que hoje o festival é recebido de braços abertos: “De uma certa desconfiança inicial – que é natural e quase inevitável – passou-se para um apoio grande ao evento e neste momento o festival é abraçado por todos”, sublinha o diretor do festival com um sorriso a iluminar-lhe os lábios.

Outro desafio foi o da opção por apresentar apenas música portuguesa ou de origem lusófona. Apesar do “receio” original, o desafio foi superado, muito graças à “diversidade” que os artistas portugueses e lusófonos apresentam.

“Também havia, inicialmente, um bocadinho o receio de que, por ser um festival só de música portuguesa, passados um ou dois anos já não houvesse nada de novo para mostrar e que já tivéssemos de andar a repetir cartazes consecutivamente. Felizmente, isso não tem acontecido, porque a música portuguesa vive uma época de grande diversidade e expansão e temos conseguido – repetindo um nome aqui, outro acolá, obviamente – todos os anos trazer sempre novidades. Isso é ótimo!”

Um terceiro desafio, desta feita por força do espaço escolhido para acolher o festival, é precisamente o centro histórico de Faro, a que a organização teve de adaptar-se, pelas suas características tão… características.

“Normalmente, os festivais impõem-se num território. Chega-se a um descampado ou um grande parque e o festival impõe-se ali. Nós não. Nós temos de adaptar-nos ao território, porque as ruas têm a dimensão que têm, as praças têm a dimensão que têm… Nós é que temos de adaptar-nos ao território. Isso é um desafio acrescido, mas também muito estimulante e interessante fazer um festival nessas circunstâncias”.

Um festival para toda a família

Apresentando-se como o último grande festival de verão, a data em que acontece é deliberadamente escolhida para enfrentar a sazonabilidade.

“Apesar de ser no verão, não está mesmo no pico do verão, que é o mês de agosto. Está já um bocadinho no final da época balnear, da época de férias, exatamente para combater um bocadinho a sazonalidade que é muito típica no Algarve e também da música portuguesa”.

Esta opção tem também as suas vantagens: “Uma das coisas de que mais gostamos no festival é que, muitas vezes, os artistas chegam já muito rodados do verão, com muitos espetáculos nas pernas… Por um lado, os espetáculos normalmente são bons, no sentido em que os artistas já chegam lá com os espetáculos muito oleados e reflete-se na qualidade, e, por outro, há sempre um espírito de grande comunhão entre os músicos e toda a gente que participa… Isso nota-se bastante nos camarins, porque estamos a falar, muitas vezes, de pessoas que pertencem à mesma “tribo”, que têm ali quase um pretexto para se encontrarem no final do verão, depois de andarem a percorrer o país de norte a sul”.

Vasco Sacramento está, por isso, bastante entusiasmado para a nona edição doFestivalF, que, acredita, tem um cartaz “bastante interessante e diversificado”.

“Houve uma tentativa de fazer com que o festival fosse cada vez mais um festival para todas as idades, um festival de famílias. É um F de famílias”, sublinha. “Temos, não só, muitas apostas para um público mais jovem, mas também temos alguns artistas que se destinam a um público que é um bocadinho mais crescido. Gostávamos muito de ver isso refletido no público, ou seja, ser um festival literalmente dos oito aos oitenta”.

O Festival F acontece entre 5 e 7 de setembro, no centro histórico de Faro, e apresenta nomes como The Legendary Tigerman, Camané, Ana Lua Caiano, Tiago Bettencourt, Ivandro, Glockenwise, Tribruto ou BIIA. Os bilhetes estão à venda na Ticketline e nos lugares habituais.

Os bilhetes diários custam 22 euros e o passe geral 54 euros. Crianças até aos 12 anos não pagam bilhete, desde que acompanhadas por um adulto com bilhete válido.