Estudantes defendem que devolução de propinas não responde às necessidades

Estudantes dizem que devolução de propinas não responde às necessidades dos estudantes, uma vez que é um dos maiores e principais obstáculos ao combate ao abandono do Ensino Superior.

A devolução da propina por cada ano de trabalho, anunciada por António Costa em Évora durante a rentrée socialista, foi recebida com cautela pelos estudantes.

Para a Associação Académica de Coimbra, a manutenção da propina continua a ser um dos principais obstáculos ao combate ao abandono do Ensino Superior. Para João Pedro Caseiro, presidente da Direção Geral, “a medida apresenta traços positivos na valorização do começo das carreiras qualificadas, mas deve complementar a uma medida central que vise a propina zero”.

A proposta do governo “não responde aos desafios dos estudantes enquanto estão a estudar”, defende o dirigente associativo, e “não elimina a barreira que a propina é para os estudantes, o problema da habitação” entre outros obstáculos.

Também a Associação Académica da Universidade de Évora (AAUE) recebeu a notícia “com bons olhos”, mas considera que “não é uma resposta para a atualidade”.

“É necessário, acima de tudo, entender quem se encontra neste momento apto a poder usufruir” da nova medida, considera Henrique Gil, presidente da AAUE. “Quem procura trabalho e principalmente um futuro fora de Portugal, não o faz por apenas 700 euros”.

À semelhança de João Pedro Caseiro, o dirigente associativo sublinhou que esta “não é uma medida que venha reduzir o custo da frequência [do Ensino Superior], pois não elimina a necessidade de pagamento” e que “funciona quase como um prémio”, identificando o custo do alojamento como principal obstáculo a quem quer frequentar a universidade.

Sobre os mestrados, o presidente da AAUE defendeu que os 1.500 euros fixados pelo governo “não servem de baliza”, uma vez que “não existe um teto máximo para a propina de mestrado e algumas instituições praticam valores astronómicos”.

Também a Federação Académica de Lisboa considera que a medida anunciada não dá qualquer resposta aos estudantes.

“Não vai colmatar as dificuldades de um estudante no ensino superior”, lamentou Catarina Ruivo, apesar de considerar que a devolução do valor da propina poderá ajudar a reter jovens licenciados no nosso país. No entanto, frusta as expectativas dos estudantes de uma redução do valor das propinas.

“São muito mais direcionadas a jovens já empregados e não àqueles atualmente no Ensino Superior”, sublinhou, acrescentando que continuam a faltar políticas ao nível da ação social e do alojamento estudantil.

António Costa anunciou na quarta-feira que, por cada ano de trabalho em Portugal, o governo vai devolver aos estudantes as propinas pagas no ensino público, o que corresponde a 697 euros. A medida também se aplica aos jovens que beneficiam da Ação Social Escolar.

No que aos mestrados diz respeito, o primeiro-ministro fixou o valor a devolver em 1.500 euros por cada ano concluído, isto porque as propinas variarem consoante os cursos e as instituições.