Eu sou do tempo em que a Europa dava os seus primeiros passos enquanto projeto comum, por isso, ainda me lembro das fronteiras e da forma discricionária como os emigrantes portugueses eram muitas vezes tratados depois de horas seguidas ao volante; da papelada que era necessária para andar de um lado para o outro; das diferentes moedas e de uma vivência muito mais solitária e por isso com menos oportunidades, sobretudo para os países menos desenvolvidos.

Portugal só entraria para a CEE (Comunidade Económica Europeia) em 1986 e enquanto a União Europeia (UE) foi sendo aprofundada, vivi em pleno essa integração. Na altura, ainda muito jovem, lembro-me de ver obras em todo o lado com placas que diziam: Projeto financiado por fundos comunitários.

Mas o projeto que mais me entusiasmava, por ser uma oportunidade ímpar para os jovens, era o programa Erasmus, que possibilitava aos estudantes do ensino universitário irem estudar noutro país europeu sem se preocuparem com as equivalências. A atribuição de bolsas democratizou este programa e fez com que milhares de jovens portugueses pudessem ter acesso a esta mobilidade, que de outra forma não teriam.

Este programa de apoio à educação, à formação, à juventude e ao desporto dispõe de um orçamento de cerca de 26.2 mil milhões de euros e os portugueses conhecem-no bem, porque os nossos jovens são os europeus que mais têm aproveitado estas oportunidades com taxas de execução que chegam a ser superiores a 100%.

O Europeísmo foi acontecendo e à medida que o tempo avança, o entusiasmo foi normalizando e os governos dos respetivos países que pertencem à União Europeia aproveitam para mostrar o progresso: quando algo corre bem é por mérito próprio, quando algo corre mal, a culpa é da Europa.

Quando conseguem resolver algum problema, o mérito é seu; quando não conseguem resolver nada é porque a Europa não deixa. Não admira, por isso, que as pessoas se tenham convencido que as eleições ao Parlamento europeu pouco interessam, porque tudo parece distante e talvez por isso a taxa de abstenção a estas eleições são das mais elevadas.

Ainda assim e segundo o Eurobarómetro, os cidadãos portugueses gostam da União Europeia, têm orgulho em ser europeus e 75% rejeita que pudéssemos estar melhor, fora da UE, mas são as eleições que menos mobilizam os portugueses. Em 2019 atingiu-se o valor recorde de quase 70% de abstenção.

Este percurso tem solavancos, mas talvez o maior de todos, tenha sido o Brexit em que os resultados mostravam que os mais velhos que foram votar, decidiram pelos mais novos, que ficaram em casa, tendo levado a muitas manifestações de protesto. Na altura, a BBC reportou que tinha havido menos participação nas zonas com mais população jovem.

O Brexit despertou ainda mais a minha convicção europeísta. Este salto que demos em várias frentes foi, sem sombra de dúvidas, alimentado pela integração de Portugal na Europa e por isso tenho algum receio quando vejo os mais jovens desinteressados destas eleições, por acharem que não fazem a diferença e que tudo é um dado adquirido. Não é.

Se és europeu, se te sentes europeu e se valorizas os projetos europeus, nomeadamente o Erasmus + não fiques em casa. Não faças como os jovens britânicos, até porque no dia 9 poderás votar em qualquer parte do país.