Como habitualmente, nesta altura do ano, foram há dias anunciados os resultados da primeira fase do concurso nacional de acesso ao ensino superior. Numa fase complexa da vida, após muitos anos de estudo e um verão de angústia, eis um passo fundamental para a vida de cada um dos milhares de jovens (e respetivas famílias) que aqui, e cada vez mais, depositam as suas esperanças para uma verdadeira emancipação.

Mais do que as, outrora, apetências para uma vocação, um enriquecimento cultural e científico ou, ainda, um passaporte para uma salutar boémia estudantil, a (saudável) massificação do acesso ao Ensino Superior no nosso País – bem mais tardia, é certo, do que nos países nórdicos ou anglo-saxónicos – levou-nos a uma lógica, quase, unicamente economicista.

Nesse sentido, a pura artificialidade dos rankings (não ponderando critérios sociais, económicos ou geográficos) e a inversão do paradigma do ensino superior português – em vez de orientado para o estudante, está, sim, centrado nos professores e nos interesses políticos (ou politiqueiros) mais ou menos locais – levaram a que, todos estes anos (e reformas) volvidos, os resultados permaneçam.

Cinquenta anos depois do 25 de Abril de 1974 e à boa maneira terceiro-mundista, os filhos das elites (reais ou ficcionadas) tentam estudar fora de Portugal, mesmo que em instituições de quarta linha, para lá tentarem ficar, enquanto os “filhos do povo”, cumprindo os sonhos de uma vida dos pais, pululam (na sua maioria enganados) em cursos e instituições de segunda categoria nacional.

É o elevador social partido ou a manutenção da estratificação – milenar – da sociedade nacional. Instituições com maior capacidade de atração cada vez mais centradas em Lisboa e Porto, proliferação de instituições e cursos sem a mínima lógica de rede, levando a um inevitável esvaziamento do interior e ao esgotamento do litoral.

Responsabilidade do poder político, naturalmente, de todos os quadrantes, que não conseguiu (ou não teve coragem política para o fazer) promover uma verdadeira rede nacional de ensino superior com lógica e critérios de qualidade, perdendo (como é hábito) o interior.

À boa maneira socialista (real ou meramente tática), e na ânsia de dar tudo a todos sem o mínimo de critério, o resultado é, invariavelmente, o mesmo nivelamento por baixo.

À semelhança das falácias nacionais da falta de médicos (faltam no SNS, é preciso perceber porquê); de polícias (somos dos países com maior número de agentes por habitante da União Europeia); ou de magistrados, não nos faltam instituições de Ensino Superior. Falta, sim, coragem política (macro) para reorganizar, racionalizar e fundir organismos, escolas e instituições, a bem do país, mas, sobretudo, das novas gerações.