A energia nuclear é um tema que gera muitos debates e opiniões divergentes devido às suas implicações em termos de segurança, meio ambiente, custo e políticas públicas seja em Portugal e no resto da Europa, existindo países onde existe uma diversificação através do fornecimento de energia nuclear como: Espanha, França, Reino Unido, Hungria, Suécia, Suíça entre outros.

É relevante ressalvar que segundo a IAEA- International Atomic Energy Agency (2023), no mundo existiam 417 reatores nucleares no mundo em operação dos quais: 94 (EUA), 37 (Rússia), 56 (R.P. China), 56 (França), 20 (Índia), 7 (Espanha), 12 (Japão), 9 (Reino Unido), 19 (Canadá), e atualmente a Alemanha não possui centrais nucleares por uma mudança de paradigma. Este é um tema que divide populações e governos na implementação da independência energética, se analisarmos o continente europeu as duas maiores economias,  França e Alemanha divergem estrategicamente no nuclear.

Será justo dizer que Portugal optou pela melhor opção estratégica por via de fornecimento de outros tipos de energia renovável ou devemos ponderar com seriedade o futuro da energia nuclear como complemento energético e de independência geoestratégica? Devemos debater e analisar o caminho da energia nuclear, porque a realidade alterou e vivemos numa era onde a tecnologia representa a base do futuro da energia nuclear mais acessível a nível de custo de infraestrutura, assim como de dimensão e eficiência e sustentabilidade, não podemos afirmar que temos uma transição verde e comprar/importar energia a países que têm produção a carvão, onde está a razoabilidade do discurso ecológico?

Ao contrário das gerações anteriores de tecnologia nuclear, novos sistemas prometem maior segurança, menor produção de resíduos radioativos e a capacidade de usar materiais nucleares de forma mais eficiente, um exemplo notável nesse campo do desenvolvimento nuclear é uma empresa fundada com o apoio do visionário Bill Gates. Este investiu na vanguarda do desenvolvimento de reatores nucleares da geração 4.0+, como o reator de sal fundido e o reator de núcleo rápido refrigerado a sódio. Essas tecnologias têm o potencial de revolucionar a indústria nuclear, tornando-a mais acessível, mais segura e mais económica.

O debate da sustentabilidade e da redução das emissões de carbono na atmosfera, enaltecem a importância deste tema em diversos palcos políticos em Portugal e na Europa, isto porque a energia nuclear de nova geração é possivelmente, altamente multifacetada, afirmo isto com a literatura atualizada e os novos projetos que tenho vindo a acompanhar desenvolvidos no estrangeiro. Num momento em que a transição para energias renováveis está em andamento a uma velocidade enorme, a energia nuclear pode desempenhar um papel fundamental na estabilização das redes elétricas, fornecendo uma fonte de energia confiável e de base. Além disso, os reatores de nova geração têm a capacidade de reutilizar combustível nuclear usado, reduzindo assim o volume de resíduos radioativos produzidos e minimizando a necessidade de armazenamento de longo prazo. Isso representa um avanço significativo em relação aos reatores convencionais, que geram grandes quantidades de resíduos e exigem uma gestão a nível de procedimentos de segurança enormes, todos ainda temos na nossa memória os incidentes em Fukushima em 2011 (Japão) e Chernobyl em 1986 (Ucrânia), sendo assim crucial rever todos os níveis de segurança para a geração futura. Os novos designs de reatores são (supostamente) concebidos com múltiplas camadas de segurança incorporadas, reduzindo drasticamente o risco de acidentes nucleares, mas temos de ter em consideração os ataques á rede via intrusão tecnológica ou outro tipo de ataques mais convencionais.

No entanto, é importante reconhecer que a energia nuclear de nova geração ainda enfrenta desafios significativos, incluindo questões regulatórias, preocupações com a proliferação nuclear e aceitação pública. Superar esses obstáculos exigirá um compromisso contínuo com a inovação, segurança e transparência, mas existe uma questão de fundo preocupante, o aumento exponencial da população no continente Asiático e Africano, exigirá um esforço continuo de energia, caso contrário existe a premissa de abrandamento económico por um fator decisivo e estratégico como a energia e aqui o ramo militar devia/deve adicionar a sua visão de logística e geoestratégia na proteção de recursos para a nossa sobrevivência.

Está a ser demonstrado que a energia nuclear de nova geração pode ser viável e promissora, contudo é necessário o apoio adequado dos governos, instituições e da sociedade, esta tecnologia tem o potencial de desempenhar um papel crucial na transição global para um futuro energético mais limpo, seguro e sustentável e possibilitar equilibrar a nossa dependência energética com outros países, porque o que hoje é uma realidade amanhã pode não o ser.

As mudanças climáticas desempenham um papel fundamental no impulso para o investimento em energia nuclear de nova geração, à medida que o mundo enfrenta os desafios urgentes das mudanças climáticas, mas existem velocidades de mentalidade diferentes entre os três grandes blocos EUA, EU e R.P. China.

A necessidade de reduzir as emissões de gases de efeito estufa e garantir uma transição energética eficaz torna-se cada vez mais premente e fundamental, pelo menos existe na europa um ideal no horizonte 2030 e 2050 de enorme compromisso, mas com enormes mudanças e desafios que tornam a ambição europeia um quebra-cabeças para alcançar as metas da sustentabilidade em todos os setores de atividade, obviamente afetando os custos de produção e de oferta de serviços para a população, para não falar nas questões de produtos importados que terão que se adaptar a estas exigências (o mundo nos próximos 20 anos terá uma revolução única em diversos universos e quadrantes).

É relevante salientar que o programa EURATOM, para a investigação e formação para o uso de energia nuclear para uso civil 2021/2025 na Europa tem um orçamento na minha opinião relativamente baixo de 1.3 mil milhões de euros, tendo a possibilidade de ser prorrogado por mais dois anos no quadro financeiro plurianual, considero que a Europa apesar das suas tentativas mais uma vez ficará atrás dos principais blocos económicos e militares numa questão estratégica, existiram alguns avanços na independência energética com a crise da guerra na Ucrânia, mas não o suficiente porque ainda existe na europa uma mentalidade pouco federalista e ainda egocêntrica, que exigirá liderança politica forte e carismática.

Neste enquadramento energético existem obviamente opções sustentáveis, mas que ainda não podem garantir a estabilidade na rede o suficiente, desta forma considero crucial o debate técnico e político para esta peça de xadrez no quadro da comunidade europeia e em Portugal, para atingir as metas ambiciosas propostas para a transição verde e azul que pretendemos para mitigar as alterações climáticas, existem algumas dimensões que podem ser mencionadas e ser consideradas de forma que a população possa ter um painel de prós e contras para analisar o impacto deste investimento :

Baixas emissões de carbono: A energia nuclear é uma das fontes de energia com emissões mais baixas de carbono. Enquanto as energias renováveis, como solar e eólica, desempenham um papel crucial na redução das emissões de carbono, a natureza intermitente dessas fontes pode tornar necessário um complemento de energia constante e fiável. Os reatores nucleares de nova geração podem fornecer uma fonte de energia base de baixo carbono, que complementa os picos de produção de outras energias renováveis.

Capacidade de base e estabilidade de rede: Os reatores nucleares de nova geração oferecem uma fonte de energia estável e de base, capaz de fornecer eletricidade de forma consistente, independentemente das condições climáticas. Isso é crucial para garantir a estabilidade e a confiabilidade das redes elétricas, especialmente em momentos de alta procura ou em regiões onde as energias renováveis podem ser menos consistentes.

Redução da dependência de combustíveis fósseis: A energia nuclear de nova geração pode desempenhar um papel na redução da dependência de combustíveis fósseis para a geração de eletricidade. Ao diversificar o mix energético e reduzir a necessidade de combustíveis fósseis, como carvão e gás natural, os reatores nucleares ajudam a diminuir as emissões de gases de efeito estufa associadas à queima desses combustíveis.

Inovação tecnológica e segurança: Os avanços na tecnologia nuclear de nova geração estão impulsionando melhorias significativas em segurança, eficiência e sustentabilidade. Reatores mais seguros, designs avançados e métodos de fabricação inovadores estão tornando a energia nuclear uma opção mais atrativa para investidores e governos preocupados com as mudanças climáticas.

Em suma, é importante reconhecer que a energia nuclear de nova geração enfrenta desafios e oportunidades significativas,  principalmente pelo impacto público e na forma como observamos o aumento exponencial da população, o que exigirá aos governos seriedade na discussão e tempo de análise, mas dada a urgência da crise climática, a energia nuclear de nova geração pode representar uma opção valiosa e necessária na transição para um futuro energético mais limpo e sustentável, a ser considerado nos planos de investimento estratégico da União Europeia, com outra mentalidade e foco, e quiçá em Portugal.