Cultura e vinho, duas realidades cada vez mais inseparáveis na Fundação Eugénio de Almeida que agora alargou o enoturismo na Adega Cartuxa a mais um espaço denominado, precisamente, Páteo Cartuxa. Porque a vida na terra é uma obra de arte e a cultura é uma atividade de transformação da realidade, em Évora o vinho passou a ser definitivamente sinónimo de cultura.
Trata-se de um novo espaço de enoturismo proporcionado pela Fundação Eugénio de Almeida, proprietária da Adega Cartuxa, em Évora. Se antes, os turistas e passeantes podiam visitar a Quinta de Valbom, conhecer as vinhas e depois provar ali alguns dos vinhos da Adega Cartuxa, agora há algo mais para desfrutar. Podem também ir ao centro histórico da cidade e visitar o Páteo de São Miguel, que fica junto ao Templo Romano, entre a Universidade e a Sé, e aí conhecer o Palácio Conde de Bastos, onde viveu o criador da Fundação, e ficar a par de toda história da Família Eugénio de Almeida, antes de a instituição ser o que é hoje. Após esta visita, de caráter eminentemente histórico, que permite perceber a importância daquele palácio ao longo de séculos, quer seja da família Eugénio Almeida, quer seja, também, da família dos Castros, que ali residiu entre os séculos XVI e XVII, é possível depois repousar no Páteo Cartuxa e provar os vinhos da Adega, algo que antes só era possível na Quinta Valbom. Se aqui a visita era sobretudo focada na vitivinicultura, no Pateo de São Miguel há uma simbiose história e vinicultura que transforma a realidade e ajuda a perceber que, afinal, a cultura é apenas a expressão possível do mundo em um determinado tempo.
Depois de se beber do espaço-tempo, desde D. Sebastião até à criação da Fundação, em 1963, os visitantes têm à disposição os vários vinhos da adega. No Pateo Cartuxa, espaço ao ar livre, perfumado pelas árvores de fruto, podem ser degustadas, tranquilamente, os brancos, os tintos, os rosés, o espumante, e até os azeites. Depois, quem quiser, pode terminar em beleza com uma passagem pela enoteca, onde, além de poder conhecer outros vinhos não incluídos na prova no Pateo Cartuxa, tem também a possibilidade de petiscar algumas iguarias, destacando-se o Bacalhau à Brás, feito com bacalhau fresco com a batata palha envolta em ovo no momento em que é servido perante os comensais.
Este novo espaço – o Pateo Cartuxa – apresenta-se, assim, como uma extensão do enoturismo na Adega Cartuxa, antes apenas existente na Quinta Valbom.
Isto significa que a capacidade de receber visitantes vai aumentar. Em 2023 passaram pela Quinta Valbom 30400 pessoas. A estimativa para 2024 é que, com o novo espaço, o número cresça para 32500, no conjunto dos dois locais.
O enoturismo é claramente o grande embaixador da Adega Cartuxa, o verdadeiro cartão de visita. Os brasileiros representam 57% dos visitantes, seguindo-se os portugueses, depois os anglo-saxónicos e depois os da União Europeia.
Estes números acabam por influenciar o mercado da Adega. De facto, em 2022 a Cartuxa foi o maior exportador de vinhos europeus, em valor, para o Brasil. Depois, em 2023, manteve-se entre os primeiros, tendo crescido e mantido a relevância.
As principais exportações são para o Brasil, destacado, depois para os Estados Unidos, mercado comunitário, China, Macau e Reino Unido.
As quebras registadas em 2020, de 15%, já foram superadas. Em 2021 já tinham sido ultrapassados os valores de 2019, em que faturação total foi de 20 milhões de euros, tendo-se em conta que a Adega produz seis milhões de garrafas por ano.
Em 2023, fecharam-se as contas com 23 milhões de euros faturados e estima-se um crescimento de 4% em 2024.
Neste ano, o objetivo da Adega é recuperar o mercado da União Europeia que se tem mostrado muito constrangido devido ao conflito Rússia-Ucrânia, e também por causa da inflação. Recorde-se que cerca de 40 por cento das vendas são para exportação e o restante para o mercado nacional.
Em 2013 e 2014, Angola foi o principal destino de exportação da Adega Cartuxa, maior do que Portugal ou de qualquer outro mercado. Em 2013, por exemplo, a Adega vendeu mais de cinco milhões de euros para aquele país africano. Porém, em 2023 fechou-se o ano com 400 mil euros vendidos. Este decréscimo deve-se, em parte, à realidade macroeconómica do país, sem divisas estrangeiras que permitam aos exportadores e aos importadores locais fazerem os seus negócios. De todos os modos, ainda assim, tratando-se de um vinho de marca, que não é vendido em tanques para ser lá engarrafado, é um volume de vendas significativo. São poucos os produtores com a sua própria marca que conseguem vender 400 mil euros face às condições atuais.
A Fundação Eugénio de Almeida, proprietária da Adega Cartuxa, foi recentemente considerada Empresa do Ano em 2023, uma distinção da revista Grandes Escolhas, atribuída por um júri composto por especialistas do setor dos vinhos.
Este reconhecimento junta-se ao que o Conselho Europeu das Confrarias Enogastronómicas conferiu à Adega Cartuxa, considerando-a como Melhor Adega Europeia 2023, na gala que decorreu em setembro passado em Castellon, Valência.
Recorde-se que a Fundação Eugénio de Almeida é uma instituição de solidariedade social, sem fins lucrativos. Pelo menos um terço dos lucros é para iniciativas de caráter social e cultural. O restante assegura as despesas correntes e o investimentos na inovação.