As eleições representam a expressão da vontade popular através de um dos atos com maior importância e simbolismo da democracia. Trata-se, por isso, de um momento decisivo de escolha de alternativas tendo em vista o futuro coletivo. A relevância do que está em causa convoca a responsabilidade individual para a participação cívica. A interseção entre eleições, liberdade e democracia representa o mais forte pilar da estruturação do Estado, do seu progresso social e desenvolvimento económico. A mobilização eleitoral deve ser um imperativo político de primeira ordem tendo em vista a sustentabilidade das opções de governo do país.

O país precisa de estabilidade, mas também de confiança. Uma confiança assente num contrato social implícito, entre eleitores e eleitos, no qual devem estar expressos, com clareza e transparência, os compromissos e a forma de os concretizar no tempo. Essa mesma confiança requer um acréscimo de exigência, de rigor e de credibilidade na vida pública. A liberdade conquistada carece de proteção e de defesa. Tal só pode ser alcançado através de uma maior ligação entre os cidadãos e as instituições democráticas. É fundamental que estas sejam reconhecidas e percecionadas como entidades de representação e de serviço ao cidadão.

No próximo domingo, o país vai de novo a votos. Nos últimos anos, ao contrário do que seria esperado, os portugueses foram chamados a votar, de forma imprevista, para eleições legislativas. Falamos de novo de dúvidas e de incertezas. Mas nunca como desta vez foi tão clara a diferença entre projetos políticos para o futuro do país.

No essencial, o país divide-se entre o receio de mudar e o impulso para uma mudança que, embora alternativa, seja segura e tranquila. O aparecimento de partidos novos, em espaços políticos diferentes, no panorama político nacional reforça a expectativa quanto ao resultado e à consequente geometria parlamentar. A incerteza suscita, por essa razão, razões adicionais para que todos se empenhem na participação eleitoral. O país precisa de um quadro político estável, coerente, coeso e credível. No contexto que vivemos a nível internacional, não há margem para radicalismos nem para experimentalismos inconsequentes. Portugal precisa de percorrer um trajeto de desenvolvimento sustentado que lhe permita crescer e subir, no quadro da União Europeia, para posições mais competitivas.

A Europa precisa de democracias estáveis e consolidadas, alinhadas entre si num projeto de desenvolvimento estratégico comum e solidário. Portugal não se pode afastar dos princípios fundadores do ideal europeu, para o qual contribuiu, decisivamente, ao longo de décadas. O país tem uma vocação histórica europeia e atlântica que importa manter e aprofundar. Tal não será possível se a governação do país ficar refém de um qualquer tipo de radicalismo antidemocrático e antieuropeu à esquerda ou à direita. O alinhamento externo do país não se esgota apenas nos pilares geoestratégicos de segurança e de defesa comum. O destino do país precisa de abertura na economia, de centralidade global e de competitividade externa. Será também isso que estará em causa nas eleições de 10 de março.

A oportunidade para votar, nestas eleições, representa não apenas o exercício prático de um direito cívico de primeira ordem, mas, sobretudo, a tomada de decisão sobre o futuro do país num contexto de particular incerteza global.

Professor universitário//a.camposfernandes@outlook.com

Artigo publicado na edição do NOVO de sábado, dia 9 de março