Espanha foi campeã mundial de futebol feminino pela primeira vez, naquele que terá sido o mais visto de sempre na história da FIFA. Uma conquista marcada pela euforia de um país, mas que ficou imediatamente manchado pelo caricato episódio do presidente da Federação espanhola de futebol, Luís Rubiales, ter decidido beijar de forma polémica uma das principais jogadoras da seleção, que considerou este beijo, um ato abusivo e completamente atentatório dos valores de igualdade de género nos dias de hoje. Rubiales não entendeu a dimensão que o seu “besito” representa nos dias de hoje, e que é uma claríssima linha vermelha. E ao não entender perdeu toda a credibilidade para continuar. Afinal de que serve campeão mundial de femininos, se se falha em ser dinamizador e exemplo de uma mudança de cultura e mentalidade?
Isto é verdade também para outras frentes da sociedade. Sabemos hoje que na europa grassa terreno fértil para os movimentos populistas e extremistas crescerem sobre as desilusões que relacionadas com a falha nas aspirações de crescimento nos rendimentos e do chamado elevador social. Muito disto tem penalizado eleitoralmente os partidos de centro político, sejam eles de maior pendor de esquerda ou de direita, a quem cabe de facto reformar o contrato social entre cidadãos europeus e as suas instituições. E isto passa também por trabalhar no sentido de cicatrizar as feridas relativas à perceção generalizada de que para os grandes partidos do sistema, a única agenda que existe é a manutenção do poder, sem propósito de agenda societária de transformação. Aqui, como no título de futebol feminino, não basta ser poder. É preciso também que os partidos do centro político sejam indutores da credibilização do sistema democrático, em vez de alimentarem o sentimento de ressentimento popular, do qual apenas o populismo e o extremismo poderão sair vencedores.
Em Espanha Feijóo, líder do PP que venceu as eleições recentes, abordou Sánchez do PSOE no sentido de viabilizar um governo de centro durante dois anos do PP, com promessa de eleições. Sánchez recusou, e mantém a sua agenda de permanência no poder, provavelmente a custo de acordos com movimentos independentistas, que de pouco ou nada servirão no sentido de criar uma agenda transformadora social em Espanha. Servem apenas para manter o poder a qualquer preço. Sánchez, como Rubiales, não entendeu que nos próximos anos não basta ter o poder. É preciso reformar, mobilizar e credibilizar as instituições do centro político e aproximar estas do cidadão. Este “besito” de Sánchez aos independentistas pode bem acabar por ser também, uma linha vermelha política com repercussões que apenas servirão os interesses dos que anseiam por uma europa mais polarizada, desigual e menos solidária.
Presidente da International Affairs Network