Vivemos atualmente num período de transformações bíblicas devido á revolução da robótica e inteligência artificial, mas observámos, durante a pandemia, que a saúde e o bem estar ocupam um papel fundamental na vida das pessoas e compreendemos com este momento histórico e altamente traumatizante que o acesso à saúde não é apensas uma questão individual, mas uma necessidade coletiva que transcende as fronteiras e desafios os sistemas.

Neste contexto após 2020, o turismo de saúde e bem estar surge como uma possibilidade bastante intrigante, não só para a economia/saúde global, mas não será esta uma das peças que faltava ao complexo quebra-cabeça da saúde global, até para questões de doenças contemporâneas que alastram de forma rápida e silenciosa como stress e burnout e outras questões médicas?

O turismo de saúde e bem-estar não é um conceito novo, mas a sua relevância nunca foi tão evidente. É importante ressalvar o papel interessante pela positiva que a associação sem fins lucrativos Health and Leisure Portugal tem feito para promover do turismo de saúde desde 2013. Desta forma em 2025 será realizado no Porto o I Congresso Internacional de Saúde, Turismo e Bem-Estar para divulgar/promover as potencialidades advindas da dinamização deste do nicho.

É necessário relembrar que em Portugal este nicho já está a ser desenvolvido por grupos hospitalares nacionais e clínicas especializadas em diversos tratamentos cirúrgicos, mas a medicina preventiva, aliada com cuidados de saúde de altíssima qualidade, tem permitido a diversas pessoas cruzarem fronteiras internacionais em busca de melhores e mais competitivos cuidados de saúde para possibilitar uma maior qualidade de vida, seja no Porto, Lisboa, Algarve ou Madeira.

Será necessário um novo paradigma de saúde europeia e global para prevenir e até solucionar os diversos serviços nacionais de saúde. É um facto que o turismo está tradicionalmente associado ao lazer, cultura, gastronomia e descoberta de novos locais, mas questiono-me se não deveríamos de ver o setor do turismo como um veículo de prevenção, recuperação e bem-estar?

No século XXI, a saúde não pode ser encarada como um serviço estático, delimitado por fronteiras geográficas europeias e as políticas de cada estado-membro. Caso contrário não somos uma União Europeia, mas sim algo com outro significado e sem as colunas mestras da sabedoria, força e beleza que personificam os ideais da Europa como a união e a entreajuda e solidariedade. A saúde deve antes ser compreendida como um bem comum global, acessível e fluido em toda a sua cadeia de valor entre os diversos países da União Europeia.

Esta dimensão e desenvolvimento para Portugal é mais que uma mera aposta económica, deve ter um enquadramento de política pública robusta, isto para que o turismo de saúde e bem estar seja a peça que falta no quebra-cabeças. Sem dúvida, todos sabemos os benefícios do turismo a montante e a jusante e como Portugal consolidou-se como um dos melhores destinos turísticos do mundo, mas neste nicho – que pode e deve ser a base de diversos clusters económicos regionais – é necessária uma estratégia mais ambiciosa para capitalizar todo o seu potencial atual e futuro.

É necessário estimular as parcerias público-privadas que estimulem o investimento em hospitais e clínicas de referência, qualificar os serviços para direcionar a um mercado internacional são pedras basilares, além disso, temos que ultrapassar os conceitos tradicionais de marketing e posicionar o país com o melhor destino para qualidade de vida, inovação em saúde e bem-estar na sua globalidade, parece holístico falar neste enquadramento quando temos regiões que esperam à décadas por novas infraestruturas hospitalares como o Algarve.

Num enquadramento macroeconómico, segundo o relatório Global Wellness Economy Monitor de 2023, o valor global de mercado do setor do bem-estar rondava os 5,6 biliões de dólares, que incluem onze setores de atividade desde spas, termas, atividade física, saúde mental, medicina preventiva, infraestruturas imobiliárias de bem-estar, entre outros setores. No entanto, se analisarmos o setor exclusivo do turismo médico, segundo a Statistica (2024), prevê-se um crescimento até 111 mil milhões de euros em 2029, sendo a base de 2024 aproximadamente 47 mil milhões de euros a nível global.

É, no entanto, importante relembrar que o turismo de saúde não pode ser uma opção exclusiva para os que têm meios financeiros. Deve ser posicionado e entendido como uma extensão do direito humano à saúde e ao bem estar e isso exige uma reflexão profunda sobre a equidade de acessos dos serviços. Se, por um lado, o setor privado terá um papel crucial no desenvolvimento do turismo de saúde, por outro, é essencial que governos e União Europeia promovam políticas que garantam o acesso universal à saúde, inclusive para os turistas que mais necessitam.

Desta forma, para que este potencial do turismo de saúde possa ser maximizado, é crucial que os serviços de saúde e bem estar estejam alinhados com as exigências contemporâneas de prevenção e cuidados integrados.

Apesar de termos profissionais de saúde de qualidade internacional, é necessário acabar também com o flagelo das listas de espera com abordagens mais dinâmicas e fora da caixa. É importante ressalvar que a prevenção é atualmente o novo pilar da saúde global. Num mundo onde as doenças crónicas e o envelhecimento da população são desafios constantes a nível económico e saúde, a capacidade de antecipar problemas de saúde, em vez de apenas tratá-los, é fundamental e esta pode ser a chave do futuro, aliado com a revolução tecnológica que está a emergir diariamente.

Em suma, a interligação entre prevenção, tecnologia e qualidade de vida pode transformar Portugal num líder global no turismo de saúde, garantindo a criação de clusters regionais e até europeus no modelo de rede integrada.