Interrompida que está a legislatura, manda a constituição que, a 10 de março próximo, serão eleitos 230 deputados que formarão a nossa Assembleia da República. Parlamento esse de onde emanará (e perante quem é responsável) o governo.

Nesse sentido, agora que estão fechadas (entregues e validadas) as listas de candidatos a deputados dos diversos partidos, vale a pena analisá-las no seu conjunto, mais do que entrar na crítica individual dos excluídos (de hoje, não de ontem) ou no júbilo (efémero, como tudo na vida) dos incluídos.

E, porque, por incrível que pareça, nenhum dos partidos – com exceção da proposta de criação de um círculo nacional de compensação, pela Iniciativa Liberal – apresenta no seu programa eleitoral qualquer, por muito redonda que seja, alteração ao sistema político ou eleitoral, concluímos que estão (eles, não a maioria das pessoas) plenamente satisfeitos, 50 anos depois, com o atual sistema político e eleitoral.

Fazem mal.

Se, tanto no início do parlamentarismo nacional, nos idos do séc. XIX, como no dealbar da democracia, há já quase 50 anos, na “casa da democracia” emergiam os maiores vultos nacionais, com carreiras, percursos e credibilidades meritórias, hoje, sem entrar em perigosas demagogias, o cenário é bem distinto.

Momento central de qualquer lógica de poder partidário, em particular dos grandes partidos, com o atual sistema eleitoral, tudo centralizando nos respetivos líderes – eventualmente num pequeno diretório, à boa maneira da Revolução Francesa –, a escolha dos “ungidos” traduz-se, salvo raras e honrosas exceções, em especialistas em vencer eleições internas, pessoas sem qualquer percurso extrapartidário, fiéis aos seus líderes e não aos seus eleitores.

Por outro lado, a demagogia generalizada, com parcas remunerações (e condições) dos políticos, e uma autêntica devassa (totalmente permitida) das suas vidas privadas conduziram-nos ao atual estado.

Só com fortes mudanças o atual rumo de degradação poderá ser alterado.

No funcionamento dos principais partidos, com uma abertura na escolha dos seus candidatos a eleições externas (deputados, eurodeputados e presidentes de câmara municipal), traduzida em opções verdadeiramente transparentes e não em plebiscitos meramente referendários.

E, por outro lado, na há muito adiada alteração da lei eleitoral para a Assembleia da República, consagrando uma reconfiguração dos círculos eleitorais baseada no número de eleitores e no território (não é possível coexistirem círculos que elegem dois e outros 48 deputados numa mesma eleição), mas, principalmente, na possibilidade (absolutamente fundamental) de escolha dos eleitores entre os candidatos (individualmente considerados) do mesmo partido ou coligação.

Mais do que tentativas, mais ou menos táticas, de “cercas sanitárias” ou de “depuração democrática” (que só a esquerda entende conseguir fazer), esta será a única forma de combater o populismo e o gritante (e perigoso) afastamento de eleitos de eleitores.