“Quis saber quem sou,
o que faço aqui,
quem me abandonou,
de quem me esqueci…”

É assim que começa uma das mais famosas canções do português Paulo de Carvalho, cuja letra foi escrita por José Niza e a música por José Calvário, e que serviu de senha para a revolução de 74. Semelhante pensamento deve cirandar o pensamento de António Costa, face à enorme derrota que a esquerda portuguesa levou nas últimas eleições.

Quem também deverá apresentar sinais do síndrome do abandono será Augusto Santos Silva, que perdeu a eleição para o Parlamento a favor do Chega de André Ventura, com quem tão ferozmente se debateu durante a sua vigência enquanto presidente da Assembleia da República… pior de tudo, foi com o voto dos emigrantes no círculo de Fora da Europa que esta derrota se verificou.

Só França e a Alemanha permitiram a eleição de um deputado do PS, enquanto o deputado eleito pelo Chega foi um emigrante ilegal em França… As voltas que o mundo dá!

Outra surpresa (ou não) vem da nossa diáspora no Brasil, que, com ou sem a ajuda da máquina de Bolsonaro, também elegeu mais um deputado do Chega, fazendo com que, nos 50 anos do 25 de Abril, o Parlamento português conte com 50 deputados do Chega – para gáudio de 1,17 milhões de portugueses e irritação das bancadas mais à esquerda do hemiciclo.

E agora? O que sucede com este adeus do PS ao governo, depois de três legislaturas tradicionalmente repletas de peripécias no quadro da justiça e dos abusos de poder? E se António Costa for inocentado no âmbito da operação Influencer?

São inúmeras as hipóteses que se verificam nesta conjuntura política e outras tantas as incertezas do futuro governo português. Montenegro foi indigitado primeiro-ministro de Portugal por Marcelo Rebelo de Sousa. Irá piscar o olho ao PS, à IL ou ao Chega? Quem diz adeus à política e quem dirá “I´ll be back”, como Schwarzenegger no Exterminador Implacável?

Uma coisa é certa, a liderança política terá de mostrar a sua capacidade de levar a cabo o bom uso dos milhões que aí vêm e agradar a gregos e a troianos com as políticas sociais. Nestas alturas, lembramo-nos dos grandes líderes da nossa democracia: Mário Soares, Sá Carneiro, Cavaco Silva, Paulo Portas, Durão Barroso e o na minha opinião injustiçado Pedro Passos Coelho.

Não podemos negar, sem dúvida alguma, que António Costa foi o líder de que precisávamos durante a pandemia de covid-19 e que a sua saída do governo baseada numa mera alegação fala sobre o carácter do homem e a postura política que assume.

No dia 2 de abril, toma posse o novo governo da AD e preparam-se os próximos quatro anos. Serão decisivas para todos os portugueses, para a lusofonia e as diásporas, as medidas que serão aplicadas na nova legislatura.

Ao primeiro-ministro cessante, penso ser correto dizer um obrigado. Quem sabe, um até breve.

Diretor do Instituto Mundo Lusófono

Artigo publicado na edição do NOVO de sábado, dia 23 de março