Por inesperada que fosse a Operação Influencer (há que reconhecer talento aos criadores dos nomes das operações; melhor, só mesmo os rodapés da CMTV), a verdade é que, mesmo para quem tenha aprendido por um saber de experiência feito e deformação profissional a aguardar com serenidade os resultados das investigações não fazendo juízos fáceis nem apressados sobre ninguém, os sinais políticos da crise estavam lá. Independentemente da investigação, do seu curso ou resultado final – no pressuposto de que haverá um resultado final.

Estamos no país que, dez anos depois de ter detido um primeiro-ministro com enorme espetacularidade, no aeroporto, ainda não o conseguiu julgar apesar da convicção generalizada da sua culpabilidade. Este caso não tem qualquer ponta de comparação com o anterior: o fatal, aqui, foi o somatório de casos políticos, a escolha de perfis totalmente errados para as funções que lhes foram confiadas, que levou a sucessivas demissões e, por fim, a teimosia de Costa em manter Galamba, utilizando-o como arma de arremesso contra o Presidente da República. Ou seja, o governo caiu essencialmente pelo desgaste e pela política. Não teve capacidade de reagir a mais este abalo, pelos sucessivos casos que já o tinham fragilizado.

Não reclamando dotes divinatórios ou razão antes do tempo, não deixei de revisitar, dois artigos que publiquei: um há um ano, com o título Húbris, caracterizando o principal problema da maioria absoluta como sendo “o excesso de confiança e a ideia de que tudo pode” (tema que agora vejo partilhado por outros); outro há seis meses, O erro de Costa, onde previa que manter Galamba seria fatal para um político hábil, como é António Costa.

Agora, depois do adeus, o PS parece ter definido o seu caminho e o favorito socialista é claramente Pedro Nuno Santos. José Luís Carneiro tem a favor ser uma personalidade mais serena e de bom senso, dado a consensos. Mas foram precisamente essas características que o impediram, por exemplo, de travar como estava ao seu alcance o desmantelamento do SEF, sendo por isso corresponsável por um dos maiores erros do governo.

Já PNS, à velocidade de um desportivo lançado numa A1 sem radares nem controlo, vai fazer tudo para demonstrar que nada teve que ver com estes oito anos de governação, que se demitiu por coisa nenhuma, a TAP não foi com ele, o novo aeroporto está feito, a alta velocidade (que não a sua) também, nada contou para o caos na habitação, que tutelou, muito menos para o SNS. E que o que importa mesmo é restaurar a Geringonça como fórmula perfeita de fazer o socialismo sobreviver, mantendo o PS como dono do Estado, arrasando o que resta da já tão frágil economia portuguesa.

Se em cada crise há uma oportunidade, não tenho como certo que a direita tenha entendido a mensagem (voltaremos ao tema) – nem a atual nem a de Pessoa: “Ó Portugal, hoje és nevoeiro… É a hora!”

Advogado

Artigo publicado na edição do NOVO de 18 de novembro