A coluna vertebral é uma estrutura complexa que, muito para além das 33 vértebras, é composta por dezenas de articulações e centenas de ligamentos e músculos que lhe conferem integridade estrutural e capacidade de mobilidade em diferentes direções. Protege ainda as estruturas nervosas que nos permitem utilizar adequadamente os membros e o tronco.

Compreender a complexidade da coluna permite-nos perceber porque é que a esmagadora maioria dos adultos vai sofrer de dor de costas pelo menos uma vez na vida, seja esta dor na região cervical – a cervicalgia –, dorsal ou torácica – a dorsalgia –, ou lombar – a lombalgia. Permite ainda explicar o motivo de nem sempre ser possível identificar uma estrutura como única causadora de dor, o que leva a que a maioria dos doentes que nos chegam com dor de costas não precisem de cirurgia, mas sim de tratamentos médicos adequados e cuidados de reabilitação, aliados a medidas preventivas futuras, como a reabilitação, o reforço da musculatura de core, a higiene postural e a adequação do ambiente de trabalho.

Ainda assim, para aqueles que necessitam de intervenções cirúrgicas, dispomos de procedimentos cada vez mais seguros e menos invasivos, com resultados imediatos e recuperações rápidas, com melhorias evidentes da qualidade de vida e, na maioria dos casos, regresso às atividades habituais, sem limitações.

Um exemplo paradigmático é o da hérnia discal lombar. Todos conhecemos alguém que diz ter uma hérnia lombar. Estas discopatias – patologias do disco, que se encontra entre as vértebras –, para além de frequentes, são muitas vezes associadas pelo doente à causa da sua lombalgia. Apesar disto, a maioria das pessoas com discopatias nunca vai ser operada, e precisa sim de melhorar a harmonia estrutural da sua coluna vertebral, reforçando o seu core. Os poucos que necessitam de intervenções têm habitualmente outros sintomas, decorrentes da compressão de estruturas nervosas circundantes.

A cirurgia da hérnia discal lombar tem evoluído muito ao longo das últimas décadas, tendo passado de um procedimento com grandes incisões, em que era aconselhado repouso no leito e pausas laborais prolongadas, para uma intervenção cada vez menos invasiva. Hoje, a chamada microdiscectomia, com o uso de aparelhos de magnificação, como o microscópio, permite remover a hérnia com um mínimo de interferência nas estruturas envolventes.

Adicionalmente, o advento da “discectomia endoscópica”, com a utilização de uma câmara que permite visualizar e remover a hérnia, veio contribuir para a evolução da técnica e aumentar o leque de opções disponíveis para este tratamento. Assim, um doente operado a uma hérnia isolada pode ter alta em menos de 24 horas, com independência total no seu autocuidado e, na maioria dos casos, pode voltar rapidamente ao trabalho e, em menos de 2 meses, regressar à prática desportiva e à vida completamente normal.

A cirurgia da hérnia discal é apenas o exemplo, talvez mais simples, da panóplia de intervenções que dispomos para tratar a patologia da coluna vertebral, sendo um paradigma daquela que é a evolução das técnicas, que nos permitem oferecer cada vez melhores resultados com menor invasibilidade.

E então, respondendo à questão inicial, a dor de costas, seja de que região for, é um sintoma, habitualmente benigno, que deve ser avaliado de forma cuidada e individualizada de modo a oferecer o melhor tratamento disponível.