Donald Trump contra-ataca: “Não conseguem vencer-nos nas urnas, tentam vencer-nos com a lei”
Discurso na Florida, horas após ter sido indiciado por 34 crimes de falsificação de documentos em Nova Iorque, serviu para o ex-Presidente dos Estados Unidos apontar interferências judiciais para tentar impedi-lo de reconquistar a Casa Branca em 2024.
O ex-Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, quase não se referiu ao processo em que foi indiciado por 34 crimes de falsificação de documentos por um tribunal de Manhattan no discurso, feito na noite de terça-feira (madrugada de quarta-feira em Portugal), em que supostamente iria reagir a essa decisão, inédita no que diz respeito a responsabilização criminal de um eleito para a Casa Branca.
Em vez disso, o multimilionário republicano, de 76 anos, que venceu as eleições presidenciais de 2016, mas não foi reeleito para o segundo mandato quatro anos mais tarde, desferiu um ataque ao que descreveu como uma cabala em que agências governamentais e o sistema judicial são usados politicamente para tentar impedir que possa voltar à Casa Branca após as eleições de 2024.
“Não nos conseguem vencer nas urnas de voto, tentam vencer-nos com a lei”, disse Trump, no seu resort de Mar-a-Lago, na Florida, para onde voltou depois de se deslocar a Nova Iorque para ouvir que irá responder por 34 crimes, os quais têm a ver com registos comerciais falsificados para o encobrimento daquilo que o procurador Alvin Bragg disse serem outros crimes. Em causa está a utilização de verbas destinadas à sua campanha eleitoral para silenciar pessoas que prejudicariam as hipóteses do magnata do imobiliário e entretenimento nas presidenciais de 2016, quando surpreendeu tudo e todos e derrotou a candidata democrata Hillary Clinton.
A estratégia de Trump, bem patente num discurso com menos ataques aos correligionários republicanos do que tem sido hábito – embora tenha utilizado por uma vez o termo RINO, que designa membros do partido demasiado moderados -, passou por denunciar o que considerar ser a interferência na disputa eleitoral para as presidenciais de 2024. “Não podemos deixar que aconteça”, disse, agitando para os seus seguidores as “nuvens muito negras sobre o nosso amado país”.
Sem referências concretas ao caso, que envolve pagamentos, alegadamente em violação da legislação eleitoral do estado de Nova Iorque, a um porteiro da Trump Tower que teria dados sobre um filho ilegítimo do então candidato republicano, a uma suposta antiga amante e à actriz de filmes pornográficos Stormy Daniels, o ex-Presidente dos Estados Unidos proclamou que “o único crime que cometi foi defender com unhas e dentes o nosso país daqueles que o tentam destruir”.
Logo de seguida, passou para alegações quanto a um conluio entre o FBI, o Departamento de Justiça e as redes sociais Facebook e Twitter para evitarem “expor os Biden como uma família criminosa”. Referiu-se à forma como foram silenciados e reduzidos a “desinformação russa” os documentos comprometedores encontrados no computador de Hunter Biden, filho do actual Presidente dos Estados Unidos, que o derrotou nas presidenciais de 2020 – embora Trump insista em que houve fraude numas eleições “dignas de país do terceiro mundo” -, aproximando-se da inédita ocorrência desta terça-feira para dizer que o procurador do caso, apoiado pelo multimilionário George Soros, “fez a sua campanha eleitoral toda a dizer que me ia apanhar”.
Não faltaram também ataques a outras duas investigações judiciais nas quais se encontra envolvido, relativas a suspeitas de pressão para contrariar os resultados eleitorais apurados no estado da Geórgia – onde Joe Biden saiu vencedor – e ao transporte de documentos presidenciais classificados para sua casa. Contrapôs que Joe Biden, enquanto senador e vice-presidente, sem ter direito a desclassificar documentos, também levou muitas caixas de documentos consigo.
Num tom evidente de pré-campanha eleitoral, o favorito dos eleitores republicanos, segundo todas as sondagens, disse que as acusações que está a enfrentar são ridículas. “E o mundo já se está a rir de nós por tantas coisas, como as nossas fronteiras abertas e a nossa retirada do Afeganistão”, disse, atacando a administração Biden pelo “abandono da independência energética”, por estatísticas de crime “nunca antes vistas” em cidades geridas por democratas e até pelo risco de uma Terceira Guerra Mundial que envolva bombas atómicas. “Não estamos muito longe disso, acreditem ou não”, disse à plateia de apoiantes em Mar-a-Lago e aos milhões que o seguiam na televisão.
“Os cinco piores presidentes da nossa história não conseguiram fazer metade da destruição da administração Biden”, disse, responsabilizando-o pelos entendimentos entre a Rússia e a China e entre o Irão e a Arábia Saudita, bem como pela invasão da Ucrânia. Uma iniciativa de Putin que Trump acredita que nunca aconteceria caso estivesse na Casa Branca. “Todas aquelas vidas teriam sido salvas e aquelas belas cidades preservadas”, disse.