A denúncia da “fraude eleitoral” e a certeza na vitória do candidato presidencial da oposição continuam a mover dirigentes da comunidade venezuelana em Portugal, que hoje promoveram uma pequena concentração em Lisboa frente à estátua do “libertador” Simão Bolívar.

“Não se pode tapar o sol com um dedo”, disse à Lusa Olivier Mouton, 70 anos, em Portugal há 17 anos, presidente da associação de pensionistas e reformados da Venezuela em Portugal, de boné com as cores nacionais – amarela, azul e vermelha – e que desfraldou pelas costas uma bandeira do seu país.

O veterano ativista, que diz não receber “nem um cêntimo” da sua reforma venezuelana, considera que a declaração de vitória eleitoral atribuída a Nicolás Maduro é simplesmente uma “mentira”.

“O povo da Venezuela disse que queria liberdade, em paz, e isso não está a acontecer. É claramente uma mentira enorme que não queremos aceitar nem vamos aceitar. A luta vai continuar na rua, pacificamente, nada de banhos de sangue, nada de guerra civil. Isso está na cabeça de Maduro, não está na nossa”.

Olivier Mouton assegura que a oposição na Venezuela tem na sua posse as atas finais de todo o país, e não apenas da capital Caracas, que comprovam a vitória de Edmundo González Urrutia, o candidato da frente da oposição.

“São as atas de norte a sul, nas cidades médias, grandes, do país inteiro. Mas teremos de provar”. Mouton assegura que os dados na posse dos dirigente oposicionistas indicam uma vitória sem contestação: “70% venezuelanos votaram nas urnas por González Urrutia, contra 30% ou 20% para Maduro”.

Uma convicção também assumida por Maria Oliveira, tesoureira da Associação, 65 anos, natural da Madeira, na Venezuela a partir dos oito anos, e regressada a Portugal há 21 anos, “depois do Chávez [antecessor de Maduro] ganhar…”.

“Para mim quem ganhou foi Edmundo González Urrutia, que já considero o nosso presidente. São manobras políticas para ver se conseguem continuar, permanecer”, vaticina.

Explica que quando se naturalizou venezuelana, a lei não permitia o estatuto de dupla nacionalidade. “Tive de esperar até ao último momento para mudar de nacionalidade porque não queria deixar de ser portuguesa. Quando o Chávez ganhou, pensamos ser a hora de recuperar…”.

Maria Oliveira, agora com dupla nacionalidade, diz não recear uma vaga de violência pós-eleitoral, mesmo que na Venezuela sempre tenha existido alguma violência, um fenómeno “normal” na América Latina, como reconhece.

“Pode acontecer qualquer coisa mas será pontual, porque a grande maioria do povo está cansada. Não tem para viver, os salários não dão para nada, não há medicamentos, transportes, hospitais, a educação está muito deteriorada”.

E denota alguma nostalgia por um país que também considera seu.

“Há mais de 20 anos, a Venezuela onde eu vivi, onde cresci, era um país quase do primeiro mundo, agora é outra coisa, vale muito pouco… Mas para mim é um país que vale tanto como Portugal, quero igual, estou dividida, mas está muito deteriorado. Confio que a vitória da oposição será reconhecida, assim será”.