E pluribus unum. De muitos, um: é este o lema no brasão nacional da Jamaica e a frase que se lê nas moedas do dólar americano. Significa “de muitos, um”; simboliza a união na diferença e a aceitação do próximo, pela união, singela e simplória, do que é inerentemente igual e inerentemente diferente. Não importa. De muitos, um.

Na prática e por norma, no entanto, o que acontece é o seu inverso. Um, de muitos. Não o digo de forma diferente, como “um entre muitos”, porque não é disso que trato. “Um entre muitos” seria uma apologia à individualidade e essa poderá existir mesmo dentro do friso social. “Um, de muitos” quer dizer que a diferença socialmente aceite acontece apenas e só dentro dos padrões estabelecidos e que qualquer mística tentativa (ou existência) de diferença efetiva raramente é bem-sucedida.

A celebração da diferença só o é em contextos muito específicos e, paradoxalmente, raramente é uma celebração efetiva de diferença, mas sim de diferentes formas da mesma coisa; ou seja, de uma forma mais simples, só conseguimos aceitar a diferença se a compreendermos e, por norma, só compreendemos aquilo que somos. O ponto é que a aceitação da diferença, por norma, é a aceitação das características que nos unem e não da diferença em si. Que o diga Huntington.

A verdadeira multiculturalidade é uma miragem para grande parte das sociedades cívicas por este mundo fora, sendo essa a razão pela qual a diferença é fictícia: só aceitamos o diferente quando este é igual a nós; quando já está, de certa forma, assimilado. E o português – não obstante a sua rica herança cultural que faz com que aquilo que nos é inerente, “parte de nós”, seja mais abrangente – comete ainda hoje um pecado proveniente da sua história: o nosso passado colonial continua a manifestar-se.

Quem vem de fora entende este conceito paternalista de diferença, em que o outro é bem-vindo desde que não desafie demasiado a ordem estabelecida, tornando a nossa versão de multiculturalidade decorativa e francamente superficial. A convivência raramente é paritária quando é baseada em encaixe cultural. Quem vem de fora sabe que a cor da sua pele só deixa de importar se estiver de fato; quem vem de fora sabe que a sua forma de ser tem de passar para segundo ou terceiro plano.

Enquanto assim for, seremos incapazes de gerir a diferença – e, assim, fomentamos a desigualdade.

Mestrando em Ciência Política e Relações Internacionais