Não é totalmente consensual entre os populares nacionais a aceitação e importância do 25 de Abril, sendo que – por tê-las – instituiu-se como feriado obrigatório em Decreto-Lei de 18/04/1975. E assim ficou. Bem como as do 25 de Novembro’75 que, mesmo não sendo feriado, não deixa de ter a devida relevância, completando o ciclo iniciado na Revolução’74 e trilhando o nosso desígnio democrático, aquele que garantiria a estabilidade e prosperidade necessárias para Portugal. Ambos complementam-se!

Por isso, entendo e defendo a vitalidade de se despolitizar e despartidarizar o 25 de Abril em si, e o que com ele acarretou (ao longo do PREC), para que ninguém se julgue mais ou superior em termos de apropriação e de destinação. O 25 de Abril é de todos, porque para todos se determinou. Todos somos filhos dessa madrugada, mesmo quem nasceu posteriormente! Portanto, não faz sentido – como ainda se ouve, por vezes, na praça pública ou se lê no online – haver quem se tome como bastião da Liberdade ou dono da verdade democrática.

E um excelente exemplo que quero aqui enaltecer, dessa pluralidade tolerante ou tolerância plural na elevação democrática das comemorações cinquentenárias, veio há dias da nossa Casa-mãe da Democracia, no próprio dia 25 de Abril. Fiz um exercício para mim mesmo, o qual resultou significativamente. Aqui partilho. Ouvi, com atenção, todos os discursos dos deputados parlamentares, da Esquerda à Direita. E para melhor filtrar o que diziam, e não fazer qualquer juízo de valor legítimo (até porque não sou filiado em nenhum partido), desprovi-me de olhar para quem falava como sendo deste ou daquele partido. Desapeguei-me de ter ou não afinidade-afeição por cada um/a daqueles que palestravam. E o que constatei? Maravilhado, percebi que todos eles – independentemente das suas ideologias – tiveram expressões brilhantes e visões de ideal futuro para o País: conciliáveis, indispensáveis e praticáveis, por si e entre si. Digo-o de modo geral, retirando uma parte ou outra menos feliz, num ou outro discurso (no total, foi residual).

Até nas bancadas parlamentares, deputados houve que, durante ou no final dos discursos, aplaudiram sempre colegas seus de outros partidos. Houve ali um sentido pleno de Estado, fazendo cair aquela via desgastante – e tantas vezes exagerada e até profanada – de se (auto) constituírem como “opositores” acérrimos ou “rivais políticos”. Ou mesmo, ainda, dignas ovações justamente em pé, quando o presidente da Assembleia da República quis homenagear os civis que, infelizmente, estavam “à hora errada, no local errado” e foram inocentemente baleados, com uma das famílias presentes. Como se homenagearam, e muito bem: os obreiros do MFA e o General Ramalho Eanes, tal como os considerados “pais da Democracia Portuguesa” (que muito contribuíram): Mário Soares, Álvaro Cunhal, Francisco de Sá Carneiro e Diogo Freitas do Amaral. Foi, realmente, interessante de se ver e ouvir! Parecia que estava a viver um sonho lindo, naquele cenário ali deparado. E este sonho deverá e deveria ser sempre a realidade! Vi e senti, neste 25 de Abril, que tal foi e é possível.

Pois, vemos e sabemos, que há tantos momentos em que não é assim. Basta olhar para a notícia televisiva, e quando não há alguma baixeza no trato com que se ferem uns e outros – cujo entendimento tarda em se alcançar –, ou se veem vários deputados em constantes conversas paralelas entre si, enquanto outros deputados discursam, ou estão distraídos ao telemóvel. Que exemplo este é pretendido ser dado aos nossos jovens?… Ou ser dado aos cidadãos desacreditados dos agentes políticos e governantes?… A resposta é clara: é, obscuramente, um não exemplo! Um gatilho célere para o desrespeito, a indiferença, a não empatia, a desresponsabilização. Desvalores já tão presentes na nossa Sociedade. Não se agravem nem azedem os mesmos, mais do que aquilo que se é e se tem!… Como tal, urge que todos os partidos e políticos dignifiquem o lugar onde estão. Reproduzam sempre essa elevação democrática que, neste 25 de Abril, realmente souberam ter e na qual devem permanecer. Basta os senhores deputados e senhores ministros (sejam estes ou outros, antes e depois) quererem e não se esquecerem que, antes de ali estarem – porque muitos votaram neles –, eram cidadãos comuns. Podem manter-se como tal, na sua conduta esmerada e sem tiques de politiquices.

Nestas comemorações cinquentenárias, aproveito para destacar aqui um outro momento de enlevo democrático: o painel político realizado na Escola EB2,3 de Canedo (que coorganizei e moderei) com representantes dos partidos existentes há 50 anos. Ou seja: Alexandra Almeida (CDS-PP), Jorge Sarabando (PCP), Manuel Pizarro (PS) e Miguel Guimarães (PSD). Foi um debate muito conciso, fluído e proveitoso. Sobretudo, muito cordial e mutuamente respeitoso. Eis a tónica que abriu e fechou o mesmo, da Direita à Esquerda: TOLERÂNCIA! Que se cumpra! Tal como Abril, tal como a LIBERDADE!