Muitas ilações podem ser retiradas no que toca aos resultados das Eleições Regionais da Madeira. Entre elas, troca de versões distintas por parte de Miguel Albuquerque e a Iniciativa Liberal, o acordo de coligação pós-eleitoral entre PSD/CDS-PP e o PAN, a deslocação de Luís Montenegro à Madeira e, ainda, como se não bastasse, a transposição da realidade madeirense para o olhar e território nacional, aliada à semiderrota do PS. Todas elas já foram consideradas, não só consequências, como também produtos do ato eleitoral em análise.

Todavia, desenrolou-se um outro cenário menos de dois dias depois dos resultados da Madeira: a demarcação do PSD com o Chega. Ainda que expectável, até um certo ponto, o timing escolhido não deixa de ser suspeito e bastante oportuno para Luís Montenegro.

Mais uma vez, ainda que já estivesse subentendido ao afirmar que rejeita coligações ou apoios “de partidos racistas, xenófobos ou populistas”, Montenegro nunca se atrevera a dizer o nome do partido em questão, ainda que óbvio, por possível e provável medo de futura necessidade em caso de maioria relativa.

Posto isto, a maioria alcançada por Miguel Albuquerque entre PSD/CDS, revitalizando, de certeza forma, o CDS, deu o conforto necessário a Luís Montenegro para tirar a carta Chega do baralho.

Quais as vantagens?

Segura o eleitorado do PSD, mais ao centro. Reconquista alguns votos para o PSD que, por falta de demarcação e receio de uma coligação pós-eleitoral, não votaram PSD. Pode dar aso nas próximas eleições ao famoso voto útil, da Iniciativa Liberal e do CDS, dado que já existe a certeza de que a extrema-direita não entrará no governo. Poderá existir, inclusivamente, um voto útil por parte do eleitorado do Chega, como tentativa de demitir o governo, passando o voto útil a chamar-se voto de protesto. Mais que isso, acaba por suprimir a campanha do PS favorável ao crescimento do Chega, através da junção de todo o bloco da direita como se fossem um só.

Quais as desvantagens para o PSD?

Se os cenários acima não seguirem esta mesma linha de forma estrita, o PSD arrisca-se a não conseguir formar governo. Não terá o Chega para ser socorrido.

O facto de o timing escolhido ter sido após as eleições da Madeira ainda nos confere um dado importante como objeto de análise: a transposição da realidade da região autónoma para o continente.

A ida de Luís Montenegro à Madeira para campanha eleitoral não se deveu apenas por ser líder do PSD ou para fortalecer a campanha de Miguel Albuquerque. A vitória do último já era dada por garantida. A questão era se teria uma maioria absoluta ou relativa e, posteriormente, quais os acordos eleitorais fruto dos resultados. A ida do líder partidário deveu-se, essencialmente, ao reforço, sem mais nem menos, da coesão do partido, ao invés do ato eleitoral em si, e representou a primeira vitória do PSD durante a liderança de Luís Montenegro. A vitória do PSD na Região Autónoma da Madeira, como já fora dito, era óbvia. As dúvidas que iam surgindo eram acerca da composição dos acordos e quais as margens dos resultados no ato eleitoral. A vitória do PSD (e do CDS) nunca foi posta em causa.

Por consequência, a ida de Montenegro funcionou como uma espécie de comemoração prévia de um resultado já óbvio. Através desta leitura, demonstra uma união partidária interna e festeja o seu primeiro êxito enquanto presidente do PSD. Por fim, este festejo é visto, do ponto de vista popular, como um início da capacidade governativa do PSD de Montenegro, principal alternativa de oposição ao PS, atual Governo.

Assim sendo, o timing não é, de todo, aleatório. As eleições da Madeira não são, nem serão, um reflexo do contexto político continental. As eleições da Madeira serviram como experiência, efetuada com sucesso, do PSD, que, ao aperceber-se do triunfo, ganhou um pequeno empurrão para iniciar a política de forma individual e ganhar o seu próprio espaço.

Licenciada em Relações Internacionais e mestranda em Ciência Política