O Papa Francisco nomeou esta quinta-feira D. Américo Aguiar, até agora auxiliar de Lisboa, como novo bispo de Setúbal, informou a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) em comunicado enviado ao NOVO.

O presidente da CEP, D. José Ornelas, num tom mais intimista, escreve: “Pessoalmente, como bispo emérito de Setúbal, dou graças a Deus e alegro-me por esta nomeação, que vem ao encontro da necessidade da Diocese, após este tempo de sede vacante. Felicito fraternamente D. Américo e imploro as abundantes bênçãos de Deus para o seu serviço episcopal à Igreja de Setúbal, contando com a participação sinodal de todo o seu povo

D. Américo Aguiar, que vai ser criado cardeal a 30 de setembro, por Francisco, assume uma diocese que se encontrava em sede vacante desde março de 2022, após a saída de D. José Ornelas para Leiria-Fátima.

O novo prelado sadino garante que deseja “fazer caminho” com os diocesanos de Setúbal, que quer “lutar com eles”, pelos seus sonhos, e que considera que os procedimentos de nomeação dos bispos devem “ser refrescados” para garantir a sucessão no “menor tempo possível”.

“Vou de coração aberto, fazer caminho com eles”, disse em entrevista à Agência ECCLESIA e à Agência Lusa.

“É um grande desafio e eu não estou com tanto medo porque sei que aquela malta que lá está é malta de fibra e eu vou contar com todos eles e eles vão contar comigo para fazermos caminho”, afirmou.

Questionado sobre os problemas sociais que marcam a Península de Setúbal, D. Américo Aguiar afirma que nunca deixou de “ter essa preocupação”, dispondo-se a lutar pelos sonhos dos habitantes da região.

Sinto as dores dos homens e das mulheres da Península de Setúbal que eu quero que continuem a sonhar! Eu quero lutar com eles por esses sonhos e quero que sejam poetas e quero que todos, todos, todos, sintam que é possível, com toda a liberdade, acederem a Cristo Vivo”.

Américo Aguiar é o quarto bispo da Diocese de Setúbal, sucedendo a D. José Ornelas, D. Gilberto Canavarro Reis e D. Manuel Martins, a quem se sente ligado por também ser natural de Leça do Balio na Diocese do Porto, onde os dois foram vigários-gerais e responsáveis pela Irmandade dos Clérigos.

O novo bispo de Setúbal recorda que visitava a região durante o tempo de seminarista e ouvia as “preocupações de D. Manuel Martins” sobre temas em que agora vai estar diretamente envolvido.

Estou contente, estou feliz, estou animado! Nem todos os portugueses têm de ir para fora do país para concretizar a sua vocação. Estou muito feliz e sinto verdadeiramente a mão de Deus nesta nomeação do Papa Francisco. É a minha cara, é a minha cara”.

Questionado sobre o facto de concretizar a renovação que o Papa Francisco deseja para a Igreja Católica, pelo facto de ter nomeado um cardeal para bispo de Setúbal, D. Américo Aguiar disse que não tem “dúvida nenhuma quanto a isso”, lembrando que Francisco “não gosta de nada que tenha o selo de ‘normal’”.

“O ser cardeal não é poder, o ser cardeal é serviço”, afirmou o também presidente da Fundação JMJ Lisboa 2023, que coordenou a realização da jornada em Portugal.

Américo Aguiar disse que “todas as funções são dignas” e não há dioceses boas e outras más, rejeitando a “expectativa de mudar”.

“Há dias li – e concordo inteiramente, mesmo que isso que isso implique com a minha pessoa – que quem está numa diocese não deve ter sonhos, nem projetos, nem expectativas de mudar. A gente deve mudar de uma diocese se morrer, ficar doente ou fizer 75 anos. São as regras normais. Ou então coloco mais uma: se o povo não nos quiser. Também é aceitável que exista essa possibilidade”, afirmou.

O novo bispo de Setúbal referiu-se também ao longo período em que a diocese esteve sem bispo, afirmando que isso “não deve acontecer”.

“Os procedimentos que existem devem ser refrescados, devem ser alterados, para que a sucessão seja garantida com o menor espaço de tempo possível”, indicou.

A Diocese é constituída por 57 paróquias ou comunidades equiparadas (“quasi-paróquias”), agrupadas em sete vigararias: Almada, Barreiro-Moita, Caparica, Montijo, Palmela-Sesimbra, Seixal e Setúbal, abrangendo uma superfície de aproximadamente 1500 km2.

Na sua primeira saudação à diocese sadina, D. Américo Aguiar dirige-se a todos os membros da comunidade católica e da sociedade local, assumindo a “honra” por assumir esta missão, evocando a figura do primeiro bispo de Setúbal, D. Manuel Martins, falecido em 2017, “que se fez grande ao lado dos mais pequenos, dos mais pobres, dos mais esquecidos”.

“Posso dizer que nasci cardeal em Setúbal (recebi o anúncio da nomeação num armazém da cidade sadina – onde fazíamos a montagem dos kits da JMJ), agora sou de Setúbal… Não tenho pretensão de ser capaz de tanto, mas quero seguir este caminho de entrega, de fidelidade, de capacidade de levar o anúncio do Evangelho, acreditando de corpo e alma que a justiça e a paz são fruto da ação de Deus, sempre que os homens e mulheres de boa vontade assim o permitem”, escreve.

Após agradecer às dioceses de Lisboa e do Porto, que serviu como bispo e sacerdote, respetivamente, o responsável alude à experiência da JMJ 2023 e cita várias das palavras deixadas pelo Papa, para inspirar a sua nova missão, propondo uma Igreja “de todos e para todos”.

A solidariedade com os “mais frágeis” e o processo sinodal, lançado pelo Papa, são outros temas desta primeira mensagem, que evoca ainda as vítimas de abusos.

“Sejamos determinados na tolerância zero a qualquer forma de abuso sobre menores e adultos vulneráveis”, apela D. Américo Aguiar.

O novo bispo de Setúbal sublinha a necessidade de “ouvir os jovens” e dar-lhes “espaço” na Igreja, como “empreendedores de sonhos”.

Natural da Diocese do Porto, D. Américo Aguiar nasceu a 12 de dezembro de 1973 e foi ordenado sacerdote em 2001; desde 2016, é presidente das empresas do Grupo Renascença Multimédia, tendo sido nomeado bispo auxiliar de Lisboa pelo Papa Francisco, a 1 de março de 2019.

O presidente da fundação responsável pela organização da JMJ Lisboa 2023 foi ordenado bispo no Porto a 31 de março de 2019, numa cerimónia que decorreu na Igreja da Trindade, sob a presidência do então cardeal-patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente.

Em 2014, o prelado publicou o livro ‘Um padre na aldeia global – Evangelização e o Desafio das Novas Tecnologias’, resultado de uma investigação para o curso de Mestrado em Ciências da Comunicação.

Coincidindo praticamente com a Região Pastoral de Setúbal, anteriormente formada no Patriarcado de Lisboa em 29 de maio de 1966, a Diocese de Setúbal foi criada a 16 de julho de 1975, pela bula ‘Studentes Nos’, do Papa Paulo VI.

A 26 de outubro do mesmo ano, na Sé Catedral de Santa Maria da Graça, foi ordenado o seu primeiro bispo, D. Manuel Martins, a quem sucedeu D. Gilberto Canavarro dos Reis, em 1998; em outubro de 2015 foi ordenado e tomou posse o terceiro bispo da diocese, D. José Ornelas Carvalho.

A 14 de março de 2022, o padre José João Aires Lobato (até então vigário-geral) foi eleito administrador diocesano pelo Colégio de Consultores.