Autores dos êxitos Às Vezes e Casa, os D.A.M.A – acrónimo para a expressão Deixa-me Aclarar-te a Mente, Amigo – esperam um verão preenchido, com concertos também confirmados para os Açores e a Madeira.

O trio lisboeta, composto por Francisco M. Pereira (Kasha), Miguel Coimbra e Miguel Cristovinho, considera que a cultura portuguesa “está de boa saúde”, num país que está mais virado “para dentro e para fora”, e pretende ainda acrescentar volumes ao disco Canções Bonitas em Português para unir quem “fala e sente na mesma língua”.

A banda já tem mais de 10 anos de carreira, celebrados no álbum gravado ao vivo no Castelo São Jorge, em 2022. Qual é o balanço desta década?

Kasha: O balanço desta década é que foi inimaginavelmente incrível, não é? A soma de tudo o que nos aconteceu nestes onze anos, as coisas boas e menos boas, trouxeram-nos até ao dia de hoje. E hoje, como é que nós estamos? Com onze anos de carreira temos, graças a Deus, prevista uma digressão para este ano cheia de concertos. Temos a maior sala de espetáculos do país marcada pela segunda vez, para 2025. Por isso, foi uma soma de muitas coisas, mas o balanço é extremamente positivo. Transformámo-nos enquanto pessoas e enquanto artistas. Temos a sorte de ter um público que tem acompanhado as nossas canções e a nossa carreira. Temos pessoas para nos ouvir, por isso somos muito abençoados.

Estão nomeados para a categoria Melhor Grupo dos Prémios PLAY 2024. Ficaram surpreendidos?

K: Nós surpreendemo-nos mais quando ganhamos prémios. Com as nomeações não nos surpreendemos assim tanto, porque somos nomeados para muitas coisas. Não ganhamos assim muitos prémios, mas para nomeações somos campeões. [risos] Mas claro que é uma honra estar nomeado e estar naquele grupo de grandes bandas portuguesas, como estão os Wet Bed Gang, Os Quatro e Meia e os Calema. É uma honra estar no meio deles, como é óbvio.

Em outubro do ano passado lançaram o EP Canções Bonitas em Português Vol. I, que já soma mais de 21 milhões de streams e mais de 29 milhões de visualizações. É uma homenagem à língua portuguesa?

Cristovinho: É, claro. É uma homenagem a algumas zonas específicas do nosso país, que é o Alentejo, que foi o que deu o mote para o primeiro volume do Canções Bonitas. Apesar de este ser um volume um, que é inspirado numa zona específica do nosso país, deu-nos uma visão mais alargada daquilo que podem ser outros volumes do Canções Bonitas. Temos vontade de fazer isso com outras regiões da portugalidade, seja o Brasil, seja África, os PALOP… Portanto, foi assim uma abertura de uma pequena janela, que está a deixar entrar muita luz e nos está a inspirar para fazer outras coisas.

K: Mais do que [uma homenagem] à música portuguesa, é à língua portuguesa. Há centenas de milhões de pessoas que falam a mesma língua e sentem na mesma língua. Através do disco e do Alentejo, percebemos que, na raiz das coisas, conseguimos unir muita gente. Então, estamos à procura disso, do que une os falantes de língua portuguesa.

Então há um segundo volume à espreita?

K: Está a ser feito. (risos)

Miguel Coimbra: Temos estado em estúdio a fazer música e temos muitas músicas novas. Vamos agora perceber o que vamos fazer com elas, como vamos lançá-las, se vai ser um volume dois ou se vai ser um novo álbum… Não sabemos bem ainda.

K: Temos música só dos D.A.M.A, temos colaborações, temos músicas em que queremos colaborações… Está naquela fase em que estamos mesmo “com as mãos na massa” a criar. Mas o ângulo é este que o Cristovinho disse.

Portanto os fãs já podem estar à espera de um próximo álbum de originais?

Cristovinho: Claro, claro! Podem estar sempre à espera de álbuns novos de D.A.M.A.

Consideram que a música portuguesa é valorizada o suficiente pelos portugueses?

K: Eu sinto que cada vez mais. Fazendo um exercício de comparação entre os nossos dez anos de carreira, desde o tempo em que começámos até ao dia de hoje, de facto, há mais portugueses a ouvir a música portuguesa. A cultura portuguesa está de boa saúde. Vemos artistas urbanos a esgotar as maiores salas do país. Por isso, sinto que, também por existir muita qualidade no nosso mercado, mas ainda bem que existe qualidade e as pessoas também estão a consumi-la. Sentimos que Portugal, durante algum tempo, foi um país muito importador de cultura e não ligava tanto à sua. Hoje em dia estamos virados para dentro e para fora.

Consideram que os Prémios PLAY têm contribuído para esse cenário?

C: Sim, todas as entidades que procuram dar visibilidade e dar credibilidade à nossa indústria, porque acho que é disso que se trata, são sempre bem vindas, não é? Não nos podemos esquecer que os prémios PLAY surgiram para isso mesmo, para dar palco a artistas novos, para dar uma forma de reconhecimento às músicas que marcaram o ano, para dar reconhecimento aos artistas que estão a trabalhar há muitos anos nesta indústria, portanto, é sempre bom. E não só os prémios PLAY. Vemos mesmo que as entidades reguladoras estão todas muito mais desenvolvidas, seja a ASPA [Associação para a Defesa, Estudo e Divulgação do Património Cultural e Natural], seja a GDA [Gestão dos Direitos dos Artistas], seja a Audiogest. São todos mecanismos que tornam a nossa indústria mais palpável e mais real aos olhos das pessoas que estão fora da nossa indústria. Nós sabemos o que isto é, porque o vivemos todos os dias, mas há muito aquele estigma de que a cultura está no final da lista das necessidades ou das prioridades e, na verdade, depois chegamos à conclusão que é das coisas que está mais em cima naquilo que são as preferências e as necessidades da nossa alma enquanto povo.

Em 2023 disponibilizaram nas plataformas de streaming o concerto Casa, Bagunça e Viagem, com Buba Espinho, Bandidos do Cante e vários outros convidados, depois de a transmissão da apresentação pela TVI ter sido líder de audiências, com cerca de 200 mil telespectadores. De onde surgiu a ideia deste espetáculo?

K: O espetáculo foi, no fundo, um culminar. Começou com fazermos a música Casa, com o Buba Espinho e os Bandidos do Cante. O concerto tentou recriar esse jantar no Alentejo, na Taberna da Pipa, onde nós jantámos todos e cantámos antes de ir para uma casa fazer a música. Há os D.A.M.A, os Bandidos do Cante e o Buba Espinho, mas, na verdade, esta música foi feita entre amigos. Uns que já se conheciam e cimentaram ainda mais a sua amizade, outros que se conheceram durante o processo e formaram esta “bolha” de energia e de arte. Foi tanto esse espírito como a nossa viagem ao Alentejo que quisemos levar ao Coliseu.

Quais são os próximos artistas com quem querem colaborar?

K: Estamos sempre no estúdio e no nosso estúdio estão sempre muitos outros artistas. Ter uma colaboração, para nós, é sempre um exercício a posteriori e raramente a priori. Normalmente, fazemos uma música e então dizemos “aqui ficava bem esta pessoa”. Por isso temos muitas músicas só nossas e muitas músicas também com outras colaborações e outras pessoas. A diferença entre a nossa viagem de criação e a que escolhemos dar ao público são duas viagens distintas, com tempos diferentes também. D.A.M.A significa “união” e “partilha”, por isso é muito normal trazermos pessoas para a nossa bolha e surge para o público o resultado disso.

E dessas músicas que disseram que estão no forno, já têm alguns convidados?

K: Temos. [risos]

C: Podemos revelar um: temos uma música no forno com o Mike11.

As próximas músicas, que mencionaram, estão para breve ou mais para o fim do ano?

C: Ainda estamos a pensar lançar qualquer coisa antes do verão, depois estar durante o verão focados na digressão e, na entrada do novo ciclo anual, ali por volta de setembro ou outubro, certamente iremos voltar a lançar algo.

Vão estar nos Santos no Tejo, no dia 8 de junho, acompanhados de Jorge Guerreiro. Visto que a temática do evento já pressupõe “duetos improváveis”, porquê essa parceria com ele em específico?

C: Dissemos que sim ao evento, porque fomos convidados e gostámos do conceito. Depois tratava-se de ver quem era o dueto que faria mais sentido e o nome do Jorge surgiu assim de uma forma muito natural, não só porque ele se tornou uma figura incontornável da música popular nos últimos anos, mas pela relação pessoal que ele tem com todos nós. Damo-nos todos muito bem com o Jorge e, pelo menos estou a falar por mim, vai ser muito divertido imaginar fazer um concerto com ele, porque são aspectos de públicos diferentes.

K: Parece que é daquelas coisas que já estavam anunciadas no universo, só não sabíamos quando. Os Santos no Tejo fizeram-nos o favor de nos dar palco para isso acontecer.

Já têm apresentações confirmadas nos Açores, durante as festas das Sanjoaninas, em junho, e na Madeira, durante o festival MEO Sons do Mar, a 6 de setembro. Será um verão em cheio?

C: Vai ser um verão em cheio. Este ano fizemos algo que achamos que tornou o espetáculo diferente, que é uma viagem temporal. Estamos a fazer o concerto praticamente pela ordem que lançámos as músicas nestes doze anos de carreira. Portanto, para quem nos conhece há mais tempo é interessante, porque passa pelas fases todas. Para quem nos conhece há menos tempo, tem de esperar até ao final do concerto para ouvir as músicas mais recentes. Todos os anos fazemos um concerto diferente para a digressão e esta foi a forma de fazermos algo distinto. Investimos muito no nosso material técnico, de luz. Temos um espetáculo que, cenicamente, nunca tínhamos feito assim, com aqueles robôs. Estamos muito felizes. O concerto já está alinhado.

Vão passar por todos os sucessos?

K: Sim, tem que ser.

C: Todos os sucessos, até pelos insucessos vamos passar. [risos]

O próximo Dia dos Namorados promete ser ainda mais especial, com o vosso concerto no MEO Arena. Que surpresas reservam para esta apresentação?

K: Muitas surpresas. Quisemos celebrar esse dia e também fazer um favor a todos os casais que ainda não sabiam o que fazer. Assim, sentimos que é uma boa alternativa: “Vamos jantar e ver os D.A.M.A”. É um programa sólido para toda a gente.

C: Ainda assim, é importante dizer também que vamos ter uma zona especial para quem vai sem namorado ou namorada.

K: Uma zona especial para solteiros. Ou seja, podem ir não só celebrar o amor, como podem ir encontrar o amor ao MEO Arena.

Qual será a ideia específica deste concerto?

C: Ainda não montámos este espectáculo, mas vamos exagerar.

K: A nossa capa somos nós em cavalos, à Napoleão Bonaparte [risos], por isso queremos mesmo exagerar essa “bolha de amor”. Vamos ter muitas atividades dessas “de namorados”, para ganhar peluches e algodão doce… Todo esse exagero deste dia.

C: A coisa boa de já termos feito o MEO Arena anteriormente é que já passámos pela experiência de efetivamente encher a maior sala do país e tocar lá, o que é único. Pensámos: “Para voltar a fazer isto, era bom termos um ângulo totalmente diferente e que nos desse para fazer algo menos focado em ‘Vamos mostrar o novo álbum’ e levar demasiado a sério’ e dissemos ”Bora fazer algo que nos permita realizar muitas coisas no mesmo dia, no mesmo sítio’”. E é mais isso.

K: Criar uma memória diferente também do que é expectável.

C: Exato. Tendo este ângulo do Dia dos Namorados, podemos chegar lá e começar o concerto com uma música romântica super antiga, portuguesa. O espetro é esse. Há tanta coisa que podemos fazer. As pessoas podem só esperar um concerto absolutamente irrepetível, porque nunca mais na vida vamos fazer aquilo. [risos]

Editado por João G. Oliveira