António Costa afirmou não apoiará publicamente nenhum dos candidatos à sua sucessão na liderança do Partido Socialista (PS). “Tendo tido o privilégio de ter sido nove anos secretário-geral do PS, e com um apoio tão vasto, acho que não me ficava bem estar a intervir na escolha de quem me vai substituir”, disse aos jornalistas à margem da Comissão Nacional que decorre este sábado, em Lisboa.

O primeiro-ministro demissionário aproveitou para elogiar os principais candidatos, Pedro Nuno Santos e José Luís Carneiro, com quem trabalhou nos últimos anos: “Tenho uma admiração e estima por ambos, conheço as qualidades de ambos. Não tenho dúvidas nenhumas que qualquer um deles será um excelente secretário-geral do PS e, sobretudo, um óptimo primeiro-ministro.”

Em declarações aos jornalistas, o ainda secretário-geral do PS disse que a missão do partido nos próximos meses passa por “aproveitar o debate interno para renovar ideias, corrigir erros e inspirar-se nas coisas boas que também aconteceram” para se apresentar aos portugueses   “de forma unida e capaz de assegurar uma vitória nas eleições de 10 de março”.

Questionado sobre o processo judicial que o visa, António Costa disse desconhecer “em absoluto” os detalhes da investigação, assinalando que vai sabendo aquilo que a comunicação social vai informando. Reforçou também o apelo que já tinha feito internamente para que o partido deixe de fora do seu discurso este caso. “Aquilo que cabe ao PS não é intrometer-se no tempo da justiça, mas é concentrar-se no tempo dos portugueses, um tempo que exige resposta aos problemas, num cenário internacional que é muito pesado”, declarou o primeiro-ministro, aproveitando o momento para deixar críticas ao Presidente da República.

Crise política “irresponsável, despropositada e desnecessária” 

O “cenário internacional pesado”, disse, recomendava “que tivesse havido bom senso em não ter desencadeado esta crise política”. “Uma vez desencadeada, o PS tem de fazer como fez nas últimas eleições: falar aos portugueses e mobilizá-los. Tal como os portugueses resolveram a última crise política irresponsável, agora devem também resolver nova crise política irresponsável”, atirou.

Mais adiante, e frisando que o PS “tem toda a capacidade para vencer as eleições”, Costa acusou a direita de apresentar uma alternativa “de instabilidade”. “Mesmo uma maioria parlamentar aritmética dependente do Chega, poderá ser uma maioria parlamentar, mas nunca será uma maioria governativa”, disse, sublinhando que o partido liderado por André Ventura “não é igual aos outros”.

“E não é só por causa da ideologia, é por causa do seu comportamento, será um factor permanente de instabilidade (…) O Chega não existe para governar; existe para contestar, para perturbar. Não há ninguém que possa pensar que, lá por ter uma maioria na AR com o Chega, que o Chega cria condições de governabilidade. Não cria, pelo contrário”, defendeu.

António Costa voltaria depois a criticar a decisão de Marcelo Rebelo de Sousa, esperando que o Presidente da República não venha a ser confrontado com a necessidade de fazer novas dissoluções: “Esta era totalmente despropositada e desnecessária”, atirou.

A Comissão Nacional do PS está reunida este sábado para formalizar as decisões de realizar o congresso em 6 e 7 de janeiro e as eleições diretas para o cargo de secretário-geral socialista em 15 e 16 de dezembro.

António Costa pediu a demissão das funções de primeiro-ministro no passado dia 07, ocasião em que também anunciou que não voltará a recandidatar-se a este cargo nas eleições legislativas antecipadas de 10 de março.

Para a sucessão de António Costa na liderança do PS, estão já no terreno três candidaturas: a do ex-secretário-geral adjunto e atual ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, a do deputado socialista e ex-ministro Pedro Nuno Santos e a do dirigente socialista Daniel Adrião.