Portugal, tal como muitos outros países, enfrenta desafios significativos no setor da habitação e encontrar soluções eficazes tem provado ser uma tarefa árdua, já que exige o envolvimento dos vários players do mercado, tanto públicos como privados. Perante este que é um dos principais problemas que o país enfrenta na atualidade, assistimos ao renascimento das cooperativas de habitação como uma alternativa promissora e transformadora para responder às necessidades dos cidadãos. Este é, inclusive, um modelo defendido pela ONU no contexto dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que estão alinhados com os valores e princípios das cooperativas.

Guiadas por interesses comuns e princípios democráticos, estas cooperativas oferecem, assim, uma resposta viável e sustentável para a crise imobiliária, através de uma abordagem única: com base nos princípios básicos estabelecidos pela Aliança Cooperativa Internacional, regem-se por valores como a adesão voluntária e aberta, gestão democrática, distribuição justa de recompensas, educação contínua e cooperação entre os membros, princípios comuns a todas as cooperativas de todos os setores.

Por outro lado, fomentam o empoderamento das comunidades locais, uma vez que vão além do fornecimento de habitação e permitem que os seus membros possuam e administrem os seus próprios espaços. Além disso, a equidade que as caracteriza significa que todos os membros têm voz igual, independentemente do investimento. Isto não só garante uma tomada de decisão justa, mas também promove uma participação ativa dos cidadãos no desenvolvimento das cooperativas, capacitando-os a determinar as condições em que pretendem que determinada decisão seja tomada.

Ao promoverem uma abordagem mais holística ao desenvolvimento habitacional, as cooperativas aumentam o sentido de comunidade e de responsabilidade, o que as torna mais resistentes às mudanças no sector e às crises económicas.

Apesar dos seus benefícios óbvios, as cooperativas de habitação enfrentam alguns desafios, especialmente em Portugal, nomeadamente o desconhecimento do modelo e a concorrência num mercado imobiliário cada vez mais complexo. No entanto, estas barreiras também são oportunidades para a educação pública e criação de parcerias que podem ajudar a expandir o conhecimento da esfera pública sobre e, por conseguinte, a incentivar cada vez mais pessoas à adesão a projetos de habitação cooperativa.

Este processo requer, contudo, inovação, adaptação e colaboração para que este modelo de habitação se mantenha relevante e eficaz. A profissionalização da gestão de desenvolvimento de cooperativas torna-se, por isso, um caminho incontornável para que a competitividade e benefício evidente, característico das cooperativas, se possa evidenciar, até por uma questão de credibilidade interna e externa. O sucesso da gestão profissional das cooperativas de habitação em outros países europeus, como é o caso da nossa vizinha Espanha, comprovam que este é o caminho a seguir.

Em conclusão: ao reconhecer e apoiar este modelo cooperativo, centrado na equidade, participação democrática e sustentabilidade, Portugal pode avançar na construção de um futuro habitacional mais justo, sustentável e participativo para todos os seus cidadãos, promovendo simultaneamente uma cidadania mais ativa e o empoderamento das comunidades locais.