A contestação ao resultado das presidenciais venezuelanas de domingo anunciado pelas autoridades é o mais recente episódio de uma série de eleições questionadas pela oposição e parte da comunidade internacional desde que Nicolás Maduro chegou ao poder em 2013.

Eis o histórico da última década na política venezuelana:

Maduro sucede a Chávez em 2013

Em abril de 2013, após a morte de Hugo Chávez, o vice-presidente Nicolás Maduro assumiu o testemunho da doutrina chavista e venceu as eleições presidenciais com 50,62% dos votos. O líder da oposição, o governador Henrique Capriles, derrotado por pouco, exigiu uma auditoria dos resultados e recorreu ao Supremo Tribunal de Justiça, sem sucesso.

Em 2016, a oposição tentou convocar um referendo revogatório, mas falhou esse objetivo.

O primeiro mandato de Maduro foi marcado por ondas de manifestações reprimidas com violência – mais de 168 mortos em 2014 e 2017 –, repressão dos opositores, aumento do poder do presidente e isolamento internacional, com a introdução de sanções norte-americanas.

Reeleição contestada

Nicolás Maduro foi reeleito, a 20 de maio de 2018, numa eleição presidencial antecipada boicotada pela maioria da oposição. Mais de 60 países não reconheceram a sua reeleição, incluindo os Estados Unidos, que impuseram um embargo petrolífero à Venezuela em 2019.

A 21 de janeiro de 2019, 27 militares foram detidos depois de se terem insurgido. Maduro acusou Washington de ter ordenado “um golpe de Estado fascista”.

No dia 23, o opositor Juan Guaidó, presidente do parlamento – de que os chavistas perderam o controlo em 2015 –, autoproclamou-se presidente interino, sendo reconhecido por cerca de 60 países, entre os quais os Estados Unidos e Portugal.

No final de abril, uma revolta de um grupo de militares pró-Guaidó fracassou.

O chavismo reconquista o parlamento

A 6 de dezembro de 2020, Nicolás Maduro recuperou o controlo da Assembleia Nacional, numas eleições legislativas marcadas por uma taxa de abstenção de 69% e rejeitadas internacionalmente. A maior parte da oposição apelou a um boicote.

No final de 2022, a oposição, profundamente dividida, pôs fim à presidência e ao governo interino de Juan Guaidó. A 3 de janeiro de 2023, os Estados Unidos indicaram que continuavam a não considerar Nicolás Maduro como o presidente legítimo.

Demissão do líder da oposição

Poucos meses antes das eleições presidenciais de 28 de julho de 2024, a carismática líder da oposição Maria Corina Machado, favorita nas sondagens, foi declarada inelegível pelo Governo, sob acusação de corrupção.

Foi substituída a curto prazo por um diplomata desconhecido do grande público, Edmundo Gonzalez Urrutia, para enfrentar Nicolás Maduro, que procura um terceiro mandato de seis anos. Acreditando que o Governo continuava a reprimir a oposição, Washington anunciou, em abril, a reintrodução de sanções nos setores do petróleo e do gás, que tinham sido aliviadas alguns meses antes.

O Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela anunciou que o Presidente cessante Nicolás Maduro foi reeleito para um terceiro mandato consecutivo com 51,20% dos votos. Maduro obteve 5,15 milhões de votos, à frente do candidato da oposição Edmundo Gonzalez Urrutia, que obteve pouco menos de 4,5 milhões (44,2%), de acordo com os números oficiais anunciados pelo presidente do CNE, Elvis Amoroso.

A oposição venezuelana reivindicou a vitória nas eleições presidenciais de domingo, com 70% dos votos para Gonzalez Urrutia, afirmou a líder opositora María Corina Machado, recusando-se a reconhecer os resultados proclamados pelo CNE.

Vários países já felicitaram Maduro pela vitória, como Nicarágua, Cuba, China e Irão, mas outros demonstraram grande preocupação com a transparência das eleições na Venezuela, como Estados Unidos e a União Europeia.