Os debates realizados até agora suscitaram, de forma geral, interesse e curiosidade traduzidos em apreciáveis audiências. Para esta circunstância concorreram seguramente, múltiplos fatores que vão desde a “novidade” de muitas lideranças à aparente fragmentação das escolhas sugerida pelas sondagens entretanto publicadas.

No que respeita às forças políticas de expressão mais radical sobressai, na maioria dos casos, a irresponsabilidade, a demagogia e a leviandade. No caso da extrema-direita não deixa de ser surpreendente a amálgama de ideias embrulhada numa retórica inconsequente. A técnica discursiva assente, no essencial, num disparo permanente e em rajada de frases ditas a correr impossíveis de contraditar racionalmente.

Convém, no entanto, ter bem presente que esta forma de intervenção política bem documentada, em diferentes geografias, comporta um perigoso grau de eficácia junto de muitos cidadãos, que olham para o sistema político tradicional como incapaz de dar resposta às suas frustrações e descrença.

Perante esta ameaça à democracia e aos seus valores a única atitude responsável é a concretização de políticas que assegurem resposta aos problemas e às dificuldades que alimentam este tipo de revolta e de insatisfação.

A instabilidade política a que se junta a falta de confiança nas instituições não se compadece com incerteza ou ligeireza. O país precisa de uma solução de governo estável, credível e competente capaz de assegurar a repristinação do prestígio das instituições democráticas e a recuperação da credibilidade da ação pública. O país precisa de ter na condução do seu destino pessoas preparadas, capazes, com experiência de vida e consistência técnica e profissional. A política, ao contrário do que muitos propalam, não se pode esgotar na bolha circunscrita, no essencial, a “companheiros de percurso partidário”. Uma coisa será a liderança política de um governo e a condição política do seu líder. Outra, bem diferente, o conjunto governo do país e as respetivas instituições ficarem reféns de clientelas partidárias que ocupam, de forma continuada, o aparelho de Estado e se fecham num perpétuo movimento de intersubstituição imunes à renovação e à indispensável abertura à sociedade civil. Um Parlamento competente, capaz de representar os diferentes segmentos da população, deve ser capaz de gerar um governo sólido, constituído por pessoas capazes de servir o interesse publico com qualidade, sentido do dever e respeito pelo cidadão.

A 10 de março, estarão em causa dois projetos alternativos para Portugal, polarizados nos maiores partidos da democracia portuguesa, que têm especiais responsabilidades no momento difícil que o país enfrenta. É aí que deve estar focado o interesse na avaliação das diferenças relativas entre os candidatos a primeiro-ministro. Não bastará discutir economia, educação, saúde ou habitação. Importará discutir o reencontro do país com a dignidade do Estado, com o prestígio das suas instituições, com a revalorização das funções de soberania, justiça, segurança e defesa nacional. O país precisa de se reconciliar com os bons princípios da ética e da credibilidade. Sem isso, mesmo com economia, não existirão a estabilidade ou a confiança indispensável à defesa da liberdade e do desenvolvimento sustentado do país nas próximas décadas.

Artigo publicado na edição do NOVO de sábado, dia 17 de fevereiro

Professor universitário
a.camposfernandes@outlook.com