O comissário europeu da Economia, Paolo Gentiloni, diz ter “total confiança” no primeiro-ministro, António Costa, apesar das investigações em curso em Portugal relacionadas com projetos de lítio, hidrogénio e a construção de um centro de dados em Sines, rejeitando impactos na aposta ecológica do país.

“Eu sinceramente não acho isso, que o caso que está a acontecer em Portugal possa afetar [a transição energética]. Vai afetar o cenário político português – já afetou aliás”, afirmou Paolo Gentiloni, em entrevista à agência Lusa e outros meios europeus, em Bruxelas. “Saliento a minha total confiança no primeiro-ministro” demissionário, António Costa, sublinhou.

“Acho que não vai afetar a intenção de investir na transição ‘verde’, etc.”, acrescentou o responsável, nesta entrevista a propósito das previsões económicas de outono da Comissão Europeia e quando questionado pela Lusa na ocasião sobre a investigação do Ministério Público aos projetos de lítio e de hidrogénio, numa altura em que a União Europeia defende a aposta ecológica e energética.

Paolo Gentiloni destacou: “Temos grandes necessidades de controlar as nossas despesas, mas estamos a controlá-las com muita precisão”.

O responsável europeu pela tutela da Economia é antigo primeiro-ministro de Itália pelo Partido Democrático, de centro-esquerda, que juntamente com o PS faz parte do Partido dos Socialistas Europeus (PSE).

Numa altura em que se temem em Portugal atrasos na implementação do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), Paolo Gentiloni apontou nesta entrevista, sem relacionar com a crise política, que a execução do PRR “é um desafio para todos os Estados-membros, mas sobretudo para aqueles que têm uma maior quantidade de objetivos, marcos e verbas, como Itália ou Espanha, Roménia ou Portugal”.

Nas previsões económicas hoje divulgadas, a Comissão Europeia estima que “o investimento público deverá continuar a expandir-se, no contexto da aplicação do PRR” em Portugal, embora assinale “riscos de deterioração das perspetivas orçamentais [que] estão relacionados, entre outros, com os pedidos de reequilíbrio financeiro das parcerias público-privadas”.

Portugal vai ter eleições legislativas antecipadas em 10 de março de 2024, marcadas pelo Presidente da República, na sequência da demissão do primeiro-ministro.

António Costa é alvo de um inquérito no Ministério Público (MP) junto do Supremo Tribunal de Justiça, após suspeitos num processo que investiga tráfico de influências no negócio de um centro de dados em Sines terem invocado o seu nome como tendo tido intervenção para desbloquear procedimentos.

O MP considera que houve intervenção do primeiro-ministro na aprovação de um diploma favorável aos interesses da empresa Start Campus, responsável pelo centro de dados, de acordo com a indiciação.

No dia da demissão, Costa recusou a prática “de qualquer ato ilícito ou censurável”.

O MP, em 7 de novembro, deteve cinco pessoas: o chefe de gabinete do primeiro-ministro, Vítor Escária, o presidente da Câmara de Sines, Nuno Mascarenhas, dois administradores da sociedade Start Campus, Afonso Salema e Rui Oliveira Neves, e o advogado Diogo Lacerda Machado, amigo de António Costa, que no final do interrogatório judicial foram colocados em liberdade.

No total, há nove arguidos na investigação aos negócios do lítio, hidrogénio verde e do centro de dados de Sines, entre eles o ministro das Infraestruturas, João Galamba, o presidente da Agência Portuguesa do Ambiente, Nuno Lacasta, o advogado e antigo porta-voz do PS João Tiago Silveira e a empresa Start Campus.

Para o MP, podem estar em causa os crimes de prevaricação, corrupção ativa e passiva de titular de cargo político e tráfico de influência.