O presidente do Conselho Europeu disse hoje esperar que a conferência para a paz no Médio Oriente se realize “nos próximos meses” e que seria “um erro” a União Europeia avançar unilateralmente com esta ideia sem consultar os parceiros.

“Usámos a expressão ‘em breve’ no texto porque significa que há um sentido de urgência, mas não queremos ser precisos porque queremos dialogar com os parceiros sobre qual será o momento mais apropriado. Se me perguntarem como interpreto ‘em breve’, eu diria que espero que seja nas próximas semanas ou meses”, disse Charles Michel, num encontro com jornalistas europeus, incluindo a Lusa, em Bruxelas, depois da reunião do Conselho Europeu.

O presidente do Conselho salientou o papel do primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, em trazer para a discussão entre os líderes esta hipótese, mas advogou que a União Europeia não podia avançar com a sua organização sem conversar previamente com outros atores que possam mediar a questão de fundo.

“Seria um erro, nós, a União Europeia, anunciarmos unilateralmente que edificámos a conferência de uma determinada forma. Precisamos de conversar com os nossos parceiros. Há uma semana, no Egito, começámos a falar com os parceiros sobre qual pode ser o objetivo desta conferência, até em encontros informais”, explicou.

Charles Michel advogou que também seria “um erro” pensar apenas em resolver o problema mais urgente: fazer chegar a ajuda humanitária à população palestiniana na Faixa de Gaza.

“Seria um erro olhar apenas para a questão humanitária – claro que é urgente, é importante – e não nos debruçarmos sobre a questão de fundo, que é a solução dos dois Estados e o processo de paz”, completou, justificando, para isso a necessidade de reunir o maior número de intervenientes com capacidade de atuar na região antes de organizar o encontro.

Os líderes da União Europeia acordaram na noite de quinta-feira com um apelo a “pausas para fins humanitários” para possibilitar a entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza, após divergências sobre a terminologia.

“O Conselho Europeu manifesta a sua profunda preocupação com a deterioração da situação humanitária em Gaza e apela a um acesso humanitário contínuo, rápido, seguro e sem entraves, e a que a ajuda chegue aos necessitados através de todas as medidas necessárias, incluindo corredores humanitários e pausas para fins humanitários”, referem as conclusões da cimeira europeia.

Esta formulação de “pausas para fins humanitários”, acordada entre os 27 após cerca de seis horas de discussões no Conselho Europeu, surgiu depois de a versão anterior do projeto de conclusões conter a expressão “pausa humanitária”, sem nunca ter estado previsto um apelo a “cessar-fogo”.

O apelo para pausa humanitária em Gaza mereceu consenso entre os líderes dos Estados-membros, mas Portugal, por exemplo, já tinha admitido que preferia uma posição da União Europeia a defender um cessar-fogo humanitário, não aceite por países como a Alemanha, revelaram fontes europeias.

Aliás, por exigência da Alemanha, acrescentou-se “fins humanitários”, adiantaram as mesmas fontes.

Questionado sobre a discussão de quinta-feira, Charles Michel referiu que “não houve qualquer batalha semântica” e que o que houve foi “uma discussão estratégica sobre esta matéria”.