Cerca de 15 mil palestinianos fugiram do norte para o sul de Gaza nos últimos quatros dias, desde que se intensificaram os combates no terreno e Israel estabeleceu um corredor de evacuação, anunciou hoje a ONU.

O número que consta no relatório diário da situação das Nações Unidas é três vezes superior às estimativas do dia anterior e pode indicar que está a aumentar a deslocação de pessoas, principalmente de crianças, idosos e pessoas com deficiência, de acordo com dados do Gabinete de Coordenação dos Assuntos Humanitários da ONU.

“Estão a chegar a pé, com poucos pertences”, disse a ONU, acrescentando que algumas destas pessoas deslocadas testemunharam detenções pelas forças israelitas nos postos de controlo de evacuação.

O número de deslocados em Gaza ultrapassa 1,5 milhões – mais de dois terços de uma população de 2,2 milhões –, dos quais 725 mil estão alojados em instalações da ONU, 122 mil em hospitais, igrejas e outros edifícios públicos, 131 mil em escolas não pertencentes à ONU e os restantes em casa de familiares.

Cerca de 160.000 dos deslocados permanecem em abrigos no norte de Gaza, a área mais afetada pelos combates, onde a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA) já não consegue chegar com ajuda humanitária ou ter informações sobre a situação, sublinhou o relatório.

A ONU insiste que muitos dos deslocados se encontram em condições de sobrelotação: a situação é particularmente alarmante nas instalações em Khan Younis, no sul de Gaza, onde 22 mil refugiados têm apenas dois metros quadrados de espaço cada um e há apenas uma casa de banho para cada 600 pessoas.

O relatório voltou a denunciar os ataques nas imediações dos centros médicos, que ocorreram na terça-feira junto ao Hospital Indonésio e ao Kamal Odwan, ambos no norte de Gaza, causando vários mortos e danos em edifícios e equipamentos.

A ONU sublinhou que as autoridades israelitas continuam a ordenar a evacuação do Hospital de Rantisi, na capital de Gaza, a única unidade pediátrica no norte da Faixa, onde estão abrigadas seis mil pessoas deslocadas.

O Ministério da Saúde de Gaza afirmou que a evacuação do hospital coloca em risco a vida de dezenas de crianças, incluindo 38 que necessitam de diálise e 10 que estão ligadas a ventiladores.

“Os hospitais do norte estão a realizar operações complexas, incluindo amputações, sem anestesia”, afirmou a ONU, para ilustrar a situação desesperada no território.

Pelo menos 192 profissionais de saúde morreram no conflito que começou há um mês, incluindo 16 que estavam em serviço, enquanto o número de funcionários da ONU mortos, empregados pela UNRWA, subiu para 89, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza.