Poucas são as indústrias em Portugal que, além-fronteiras, se aproximam do sucesso do futebol português. Somos um país exportador de atletas, treinadores e dirigentes, muitos deles reconhecidos como sendo os melhores, ou dos melhores, do mundo.

Apesar da vasta matéria-prima de qualidade, o futebol português tem tido dificuldade em exportar a sua liga para o mercado internacional e alcançar o sucesso que tanto pretendemos para o futebol profissional no nosso país. De facto, a Liga de Futebol precisa de uma maior profissionalização, e a centralização dos seus direitos televisivos, até aqui gerida de forma avulsa, é fundamental para que esta competição se torne mais atractiva.

Este é um tema muito polémico, não muito apreciado pelos grandes clubes, que há meia dúzia de anos, de forma individual, assinaram contratos milionários com as operadoras de telecomunicações. O mercado mostrou a Benfica, Porto e Sporting que, cada um por si, podem conseguir elevadas receitas televisivas para os seus cofres. Mas será que este é o melhor caminho para o futebol português e até para os grandes clubes?

A resposta é: não!

Depois da implementação da Lei Bosman, o futebol como o conhecíamos mudou drasticamente. Se antes era comum ter clubes de campeonatos periféricos a apresentar boas prestações nas provas internacionais, agora é bem mais difícil. Os jogadores com qualidade desses mesmos clubes optam por sair em busca de melhores condições nas melhores ligas nacionais, mesmo que seja em clubes muito mais pequenos, em tamanho e ambição. Só os melhores campeonatos conseguem reter e captar talento. Por isso, é necessário transpor e equilibrar a liga num patamar superior. Se o conseguirmos, todos os clubes, sem excepção, sairão beneficiados. Com uma liga nivelada por cima, teremos melhores jogadores e melhores jogos. Isso tornará o nosso campeonato melhor, mais agradável de acompanhar. Não tenho dúvidas de que a nossa liga se tornará muito mais vendável para o estrangeiro e, com isso, trará melhores patrocinadores e, por consequência, mais receitas para os nossos clubes.

Mas a centralização dos direitos televisivos não é, por si só, garantia de um campeonato mais vendável. É preciso melhorar os jogos das nossas ligas profissionais, onde, por exemplo, o tempo útil de jogo é dos piores da Europa. Os jogadores, os árbitros e os agentes desportivos, que gravitam à volta do jogo, têm culpas e têm de ser responsabilizados. Urge mudar mentalidades, urge substituir aqueles que não fazem falta ao futebol. Não é possível vender uma liga profissional em que se simulam penáltis, lesões e agressões. Não é possível vender uma liga profissional em que a maioria dos árbitros, por não compreenderem o jogo, impedem jogos mais intensos. Não é possível vender uma liga profissional em que os dirigentes saltam do banco a barafustar, indignados, por tudo e por nada, como se as leis do jogo se decidissem por leilão.

O futebol português está repleto de coisas más, mas apresenta grande abundância de talento. Será trágico para o desporto nacional continuar a desperdiçar o melhor que temos por não existir organização e vontade política para alterar o actual panorama. Com a estabilidade política de uma maioria absoluta, o novo secretário de Estado da Juventude e Desporto, João Paulo Moreira Correia, terá as condições ideais para catapultar o futebol português para patamares de sucesso, começando por colocar um ponto final na concorrência desleal provocada por uma injusta distribuição dos direitos televisivos, em que, na mesma competição, há equipas a receber 15 vezes menos que outras.