Os separatistas catalães consideraram hoje insuficiente o debate no Conselho Europeu da proposta de reconhecimento do basco, catalão e galego como línguas das instituições comunitárias, mas reconheceram que “nunca se tinha chegado tão longe”.
“Comprovámos hoje que Espanha não se faz ouvir tanto na Europa como dizia Pedro Sánchez”, disse o ex-presidente do governo regional catalão Carles Puigdemont, do Juntos pela Catalunha (JxCat), um dos partidos independentistas com quem os socialistas negociam a viabilização de um novo governo espanhol de esquerda, na sequência das eleições de 23 de julho.
“É verdade, porém, que nunca tínhamos chegado tão longe e que nunca antes tantos países da União Europeia se tinham mostrado favoráveis, e gostaria de lhes agradecer por isso. Que nenhum país tenha vetado a proposta é uma boa notícia, mas não é suficiente”, acrescentou Puigdemont, numa publicação na rede social X, em que chegou a agradecer “o esforço” ao ministro espanhol dos Negócios Estrangeiros (MNE), José Manuel Albares.
Avui hem comprovat que Espanya no es fa escoltar a Europa tant com afirmava @sanchezcastejon. És cert però, que mai havíem arribat tan lluny i mai abans tants països de la UE s'havien mostrat favorables, i els ho vull agrair.
— krls.eth / Carles Puigdemont (@KRLS) September 19, 2023
Que cap Estat hagi vetat la proposta és bona… pic.twitter.com/o0ECOmPLeW
Puigdemont acrescentou que “o Estado espanhol sabe que tem trabalho por fazer e sabe que tem de o fazer com diligência, porque a oportunidade é agora”.
“Estaremos muito atentos”, disse ainda.
Também o atual presidente do governo catalão, Pere Aragonès, da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), com quem os socialistas estão igualmente em negociações, considerou que “é evidente que o papel do Governo espanhol foi insuficiente”.
“Como sempre, chegou tarde e mal”, afirmou Aragonès, no X, depois de saudar a utilização do basco, catalão e galego hoje, pela primeira vez, no parlamento de Espanha.
“Hoje é um dia histórico”, escreveu o presidente do governo catalão, acrescentando que, porém, foi “uma vitória infelizmente agridoce” por ser preciso “continuar a batalhar” nas instituições europeias.
Os países da União Europeia adiaram hoje uma decisão sobre o pedido de Espanha para o basco, catalão e galego serem reconhecidos como línguas oficiais nas instituições comunitárias, mas sem vetar essa possibilidade.
Espanha colocou na agenda do Conselho da União Europeia, a que preside este semestre, o uso dos três idiomas nas instituições europeias, como pedem os independentistas, que têm o poder de viabilizar o novo governo do país.
A proposta foi debatida hoje no Conselho de Assuntos Gerais, onde os 27 países da União são representados pelos ministros ou secretários de Estado com a pasta dos temas europeus e cuja agenda foi definida por Espanha.
O MNE de Espanha disse aos jornalistas, no final da reunião, que o governo espanhol cumpriu o seu compromisso” de levar a Bruxelas o pedido de reconhecimento dos três idiomas e sublinhou que “ninguém manifestou um veto”.
“Alguns Estados-membros pediram mais tempo para analisar o desenvolvimento e implementação [da proposta]”, acrescentou Albares, que disse que agora as posições dos outros países serão abordadas através de grupos de trabalho e reuniões dos embaixadores no Conselho da União Europeia.
Albares disse hoje que Espanha propôs assumir os custos associados à utilização dos três idiomas nas instituições europeias e que avance primeiro o uso do catalão, aquele que tem mais falantes, mais de 10 milhões de pessoas, incluindo mais do que várias línguas oficiais europeias.
Além disso, reconheceu Albares, é o idioma “cujos representantes solicitaram com mais insistência” o seu reconhecimento pela União Europeia.
Em Espanha, porta-vozes dos partidos bascos e galegos, de cujos votos Sánchez também precisa para ser reconduzido primeiro-ministro, lamentaram esta prioridade ao catalão, mas não disseram que isso impede a viabilização de novo governo de esquerda.
O pedido, por Espanha, do reconhecimento dos três idiomas como línguas das instituições europeias foi uma exigência dos partidos nacionalistas e independentistas, em especial, dos catalães, para darem a presidência do parlamento nacional aos socialistas, em agosto passado, no arranque da atual legislatura.
Os mesmos partidos exigiram que o Congresso dos Deputados permitisse o uso de todos os idiomas oficiais em Espanha, e não apenas o castelhano, nos trabalhos parlamentares, o que aconteceu hoje pela primeira vez, numa sessão plenária, apesar do protestos da direita e da extrema-direita.