A mãe das gémeas foi esta sexta-feira, 21 de junho, ouvida na comissão de inquérito parlamentar ao caso das meninas luso-brasileiras tratadas no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, com o medicamento Zolgensma.

Durante a audição Daniela Martins garantiu que nunca conheceu ou se dirigiu pessoalmente ao Presidente da República, ou ao filho, e indicou que mentiu quando falou numa rede de influência que favoreceu as crianças. “Nunca conheci nem me dirigi pessoalmente ao senhor Presidente da República ou ao seu filho, Dr. Nuno Rebelo de Sousa”, afirmou Daniela Martins.

“Numa conversa, supostamente informal, vangloriei-me e afirmei ter havido uma rede de influências em que os médicos começaram a receber ordens de cima. Sobre isso, só posso pedir imensa desculpa a toda a gente de Portugal. Fui parva, errei, e errei porque disse algo que não era verdade por vaidade naquele momento”, afirmou.

A mãe das gémeas disse também ter sido uma “frase falsa e infeliz” ter dito que conhecia a mulher de Nuno Rebelo de Sousa.

“Afirmei que conhecia a nora do Presidente da República, mas a verdade é que somente a conheci num evento de Natal em São Paulo, anos depois da medicação”, referiu.

Na sua intervenção inicial, Daniela Martins recusou ter vindo para Portugal “fazer turismo de saúde”, salientando que é cidadã portuguesa “há mais de 15 anos”.

Quanto às meninas, indicou que são cidadãs portuguesas desde setembro de 2019 e que o processo foi iniciado junto do Consulado português de São Paulo em abril desse ano.

“Nessa época, não havia suspeita de doença”, indicou, assinalando que as crianças receberam o diagnóstico “no dia 09 de setembro de 2019”.

Daniela Martins referiu também que o plano da sua família era mudar-se para Portugal assim que as crianças “tivessem autonomia para isso”, mas que essa intenção foi antecipada por conta da possibilidade de tratamento em Lisboa.

Mais à frente, fez uma revelação: “Era ouvido no hospital que eu estava lá a mando do Presidente da República, e eu passei a acreditar nisso.” Questionada por várias bancadas sobre esta questão, Daniela Martins disse não ter conhecimento “do que acontece” no hospital.  “Eu não sei os bastidores. Se diziam que o Presidente interferiu, foi uma coisa que eu passei a acreditar”, insistiu.

Sobre se não questionou o porquê desses comentários, a mãe das gémeas justificou que se trataram de “comentários indiretos”. “Não tem muito o que eu questionar. O meu foco é o tratamento das meninas e não a forma como foi marcada a consulta […] Não questionava essas coisas, para mim na altura eram irrelevantes”, respondeu.

Daniela Martins indicou também que nunca tentou “fazer amizades no hospital, ter algum privilégio” e que “só queria que as consultas acontecessem”.

Referiu também que desde que soube da existência do tratamento com o Zolgensma, a sua “intenção era essa medicação” porque era “inovadora, de toma única e era uma chance melhor, mais promissora”, e que os seus esforços e contactos com as unidades de saúde foram nesse sentido.

A mãe das duas gémeas tratadas em 2020 reiterou que não pediu ajuda diretamente ao filho do chefe de Estado, Nuno Rebelo de Sousa, e que não o conhece.

Daniela Martins disse também que não lhe pediu ajuda para obter a nacionalidade das meninas, e que fez o processo diretamente no Consulado.

Esta questão levou a críticas por parte de vários partidos ao Chega, que se opuseram à divulgação e pediram ao partido que citasse o que era dito. E também do advogado e da própria mãe, que ameaçaram requerer que a reunião comissão de inquérito continuasse à porta fechada caso as imagens fossem exibidas.

O líder do Chega, que estava a inquirir, chegou a insistir na divulgação do vídeo, mas tal acabou por não acontecer.

Já perto do final da primeira ronda, a comissão foi interrompida por alguns minutos na sequência de uma pergunta sobre o estado de saúde das meninas, e que levou a mãe às lágrimas.

Quando retomou a reunião, o advogado da mãe solicitou à comissão parlamentar de inquérito a mudança de designação por colocar em causa o nome da família.

“Solicito esta casa [à Assembleia da República] a estudar a possibilidade de alterar o nome da comissão parlamentar de inquérito sobre o caso das gémeas tratadas com o medicamento Zolgensma”, salientou Wilson Bicalho, acrescentado que “é um impeditivo de a família voltar para casa”.

O presidente da comissão, Rui Paulo Sousa, adiantou que “o assunto será visto pelos serviços e discutidos em reunião de mesa e coordenadores”.