Para nós, que não temos oportunidades, mas também para vocês que trabalharam a vida inteira para um Estado que vos falhou.
Para todos aqueles que, com menos de 30 anos, já assistiram a uma bancarrota e ao esforço colectivo que fizemos enquanto nação para sair dela; mas também para aqueles que já assistiram a três bancarrotas – 1977, 1983, 2011 – e nada parece mudar. Uma vida na corda bamba entre passear ao lado do precipício e, ocasionalmente, cair nele.
As opções políticas do povo português pós-25 de Abril têm reflectido um conservadorismo do eleitorado, que não esqueceu o Estado Novo e teme novamente a perda da liberdade, da qual demorou quase meio século para sair.
Desta feita, o papel que (também) o Partido Socialista teve na luta pela liberdade conferiu-lhe uma imunidade histórica e uma tolerância nacional que tem sido maioritária perante o erro, de forma que tem sido ignorado que este foi também o responsável pelos três colapsos económicos que historicamente têm sido recuperados pelos partidos de centro-direita, que ganham a fama de “austeros”, perdendo popularidade para os socialistas sorridentes que, logo de seguida, com impostos indirectos por aqui e ali, fazem não sabemos bem o quê ao nosso dinheiro. Sabemos apenas que a eficiência e eficácia da resposta dos serviços públicos não reflectem o que pagamos.
Em termos práticos, a imunidade moral socialista permitiu que em termos de PIB per capita já tenhamos sido ultrapassados por países de leste que entraram na União Europeia muito depois de nós, em 2004. Quando falamos em economia, parece que estes números e terminologias estão distantes, não temos a percepção do seu real impacto na nossa vida: menos dinheiro no nosso bolso, menos oportunidades.
Em via contrária, tal significa que, desde 2004, os países de leste identificaram e avaliaram o que estava errado, liberalizaram a economia e evoluíram mais economicamente do que um país que está na União Europeia desde 1985. Por cá? Vamos repetindo a fórmula socialista, mantendo a sagrada “estabilidade” que ocasionalmente nos torna os pedintes da União Europeia.
As grandes empresas fogem de nós. As pequenas e médias empresas não suportam a elevada carga fiscal. Não há empregos, os que existem pagam pouco mais que “o decretado”.
A saúde não funciona. Há uma espécie de tentativa de hipnose colectiva, dos que nos governam, e se tratam onde querem, para nos convencer de que o caminho é uma lista de espera de anos, desde que seja uma fila de espera pública.
A educação doutrina-nos. A História é contada entre linhas. Impostos altos, escolas frias, com humidade, com chuva e até amianto. Mas pagamos impostos… tantos impostos.
E mais uma vez, o nosso fado, dos 18 dos últimos 25 anos, será o mesmo: Partido Socialista no governo e, desta vez, como na ocasião da última bancarrota, rei e senhor. Uma espécie de democracia amordaçada.
Poderia dizer-vos: emigrem. Podia dizer-vos que sinto pesar e receio. Mas não.
Nós, a geração à rasca, a geração de portugueses que envia currículos sem resposta e que tem de morar com os pais aos 30 anos é também uma geração destemida, uma geração que conhece o mundo e decidiu dar um murro na mesa. Os resultados eleitorais foram claros: nós, os jovens, estamos a escolher o nosso caminho sem os mesmos de sempre. Queremos liberdade política, social e económica, temos poder para olhar o sistema nos olhos e desafiá-lo. E soubemos mostrá-lo nas urnas de forma inequívoca: não queremos a extrema-esquerda e tornaremos um ideal liberal tão grande quanto os nossos sonhos.
Somos a geração dos sonhos desfeitos, do “adeus, meu Portugal”, “adeus, minha família”. Nada mais tememos a não ser esta estabilidade vazia, de pobreza e despedidas.
A vós que nos colocaram neste ponto: as dificuldades que enfrentamos, pelos vossos erros, tornaram-nos resilientes. E é por isto que apelo à minha geração:
Não emigrem. As revoluções fazem escorrer tinta, e não sangue. Ecoar vozes, e não miséria.
E nós, a geração “à rasca”, somos a revolução.