A proximidade das eleições legislativas e a inexistência de debates permitiram que a campanha decorresse de forma cordial entre Pedro Nuno Santos e José Luís Carneiro, mas os últimos dias ficaram marcados por ataques entre apoiantes e críticas ao presidente do partido, Carlos César, por se envolver na disputa interna. Os socialistas já começaram a escolher o sucessor de António Costa e os resultados vão ser conhecidos a partir das 23 horas deste sábado.

Numa campanha marcada pelo debate sobre a política de alianças, Pedro Nuno, defensor de alianças à esquerda, concentrou as críticas no PSD, numa espécie de ensaio para as legislativas do dia 10 de março.
José Luís Carneiro defendeu, desde o primeiro ao último dia, que o PS deve dialogar com todos, nomeadamente com o PSD, e nunca fechou a porta a entendimentos com os partidos de centro-direita ou mesmo a viabilizar um governo liderado por Luís Montenegro, no caso de perder as legislativas.

Os últimos dias da campanha ficaram marcados por críticas dos principais apoiantes a Pedro Nuno Santos. “Não me vou referir às fragilidades do nosso principal concorrente, porque todos sabemos quais são e, infelizmente, a direita também sabe. Há comportamentos e decisões graves que ninguém pode esconder debaixo do tapete”, disse Vasco Franco, num comício em Lisboa, referindo-se à polémica com a indemnização paga a Alexandra Reis e a decisão de avançar com a localização do novo aeroporto sem comunicar ao primeiro-ministro. O socialista apontou também o dedo ao presidente do partido, Carlos César, por “abdicar do seu estatuto de todos os socialistas” e apoiar Pedro Nuno Santos.

No mesmo comício, Miguel Coelho, presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior e ex-deputado socialista, apelou ao voto em José Luís Carneiro, porque “não despachou indemnizações por SMS e não contrariou instruções de António Costa sobre determinadas matérias”.
Mas a campanha acabou por ser cordial entre os dois candidatos, que evitaram radicalizar o debate devido à proximidade das legislativas. De um lado e de outro existe a noção de que o partido tem de se unir a seguir às eleições internas para manter o poder. “O PS não pode cometer o erro de não aparecer unido nestas eleições”, alerta Vitalino Canas, ex-dirigente socialista, que optou por não apoiar nenhuma das candidaturas (ver entrevista ao lado).

Costa entra na campanha

Os últimos dias da luta interna acabaram por ficar marcados pela declaração de António Costa, numa entrevista à CNN, de que estava disponível para fazer campanha. Pedro Nuno Santos garantiu que conta com ele: “Os socialistas têm muito orgulho em António Costa e nos resultados dos governos do PS liderados por ele. Esperamos contar com ele na campanha das legislativas.” Costa vai encontrar-se neste domingo, na sede nacional do PS, com o novo secretário-geral do partido.

Os dois candidatos assumiram o legado de António Costa, mas o politólogo José Palmeira prevê que, a seguir às eleições internas, existam mais cautelas com a colagem aos governos socialistas. “A partir do dia da eleição haverá um maior afastamento, sobretudo por causa dos problemas sociais na saúde, na educação ou na habitação. Pedro Nuno Santos está mais à vontade para o fazer, porque saiu do governo e poderá vincar isso, mesmo em relação a obras como o aeroporto”, diz ao NOVO o professor universitário.

Palmeira considera que a campanha para as legislativas pode, no entanto, ser mais difícil para Pedro Nuno Santos, porque “ainda não desfez a imagem de imaturidade que revelou enquanto governante”. As polémicas com a TAP e o novo aeroporto vão ser utilizadas pela direita e “isso poderá jogar contra ele, porque ainda não há o distanciamento necessário”.

Este artigo foi publicado na edição do NOVO de sábado, dia 16 de dezembro