A primeira Assembleia Popular dos Bairros, organizada este domingo, 24 de novembro, pelo movimento Vida Justa, aprovou um plano de ação que inclui a realização de uma nova edição “em data a indicar”.

Na nota de imprensa divulgada no final do encontro, que juntou três centenas de pessoas, lotando o auditório do Centro Cultural de Carnide, no Bairro Padre Cruz, em Lisboa, a Assembleia Popular dos Bairros considera-se “um instrumento de construção do poder popular” e compromete-se a continuar o “trabalho bairro a bairro”.

Esse processo – referem – “terminará numa nova Assembleia Popular dos Bairros”, ainda sem data marcada.

Antes disso, e como já haviam anunciado num documento distribuído no início dos trabalhos, vão organizar uma Grande Marcha dos Bairros, durante os meses de março e abril, percorrendo os territórios da Área Metropolitana de Lisboa “com manifestações e ações políticas”.

Hoje, durante oito horas, pessoas de dezenas de bairros dos distritos de Lisboa, Setúbal e Santarém trabalharam em plenário e em grupos de trabalho no sentido de identificarem problemas e soluções.

“Estamos todos satisfeitos com o resultado”, disse à Lusa Rui Estrela, da organização, destacando o trabalho “a partir da experiência, da expectativa e da visão popular das pessoas, de várias geografias, de vários contextos sociais fragilizados”.

Em concreto, o plano de ação aprovado no final da assembleia propõe uma campanha para “acabar com as Zonas Urbanas Sensíveis”.

Essa designação criou “espaços de exceção do Direito”, ou seja, onde “os direitos das pessoas não são iguais ao resto da cidade”, justificou Rui Estrela.

A mobilização das populações “pelo direito à habitação e contra os despejos” e a reivindicação “por creches e espaços verdes nos bairros” foram outras das propostas adotadas, a que se juntam um campeonato de futebol “para reivindicar espaços de desporto” e a criação de uma rádio, um jornal e uma ‘mixtape’ dos bairros.

Rui Estrela sublinhou a “lógica construtiva” do movimento, que, com a assembleia de hoje, procurou “validar o que é estrutural em várias regiões da área metropolitana de Lisboa e fora”.

O encontro juntou pessoas de várias idades, que puderam conhecer outras que “estão a passar pela mesma aflição” e perceber que “as suas histórias não são isoladas, são casos estruturais”, assinalou Rui Estrela.

Focado “em dar primeiro a voz às pessoas dos espaços que estão mais fragilizados”, o Vida Justa assume que espera “que haja alguma solidariedade entre classes” para com “um grupo de pessoas que ficam muito mais limitadas no exercício dos seus direitos de cidadania”, frisou o ativista.

Partilhando “uma visão comum do mundo”, o movimento congrega pessoas “com várias ideologias”, que muitas vezes não se sentem representadas pelas estruturas tradicionais.

“Os partidos vão saber o que é que saiu daqui e, se quiserem reunir com o movimento, podem contactar-nos e conversamos”, realçou Rui Estrela, destacando que o movimento pretendeu dar resposta à “necessidade de criar um espaço de congregação (…), de juntar forças” e de “criar uma cultura de participação”.

“Temos que criar um espaço onde as pessoas participem, porque, se estamos em democracia, as pessoas têm que participar, as pessoas não podem só ser consumidoras de decisões, as pessoas têm que ser a origem das decisões, a origem dos processos, a origem das propostas de transformação da sociedade”, frisou.

A par da reunião de adultos realizou-se uma assembleia popular de crianças, que elaborou cartazes com inquietações e reivindicações.

“Elas também têm que ser educadas a participar e a reclamarem os seus direitos”, sublinhou Rui Estrela.

Ovacionado de pé quando foi mostrar o resultado ao auditório, o grupo de crianças, dos quatro aos catorze anos, escolheu as palavras liberdade, alegria, bondade, árvores e parques para transmitir as suas aspirações.

“Não sofrer racismo nem abusos” e “pessoas com casa” foram dois dos desejos mais partilhados por quem quer apenas “ter uma vida normal”.