Num cenário onde a cultura pop parece de alguma forma dominada por um fenómeno de utilitarismo emocional, este álbum e a persona de Chappell Roan parecem liderar uma contra-corrente onde se estabelece um diálogo mais franco, mais bruto sobre fenómenos universais da experiência humana.
A persona não alimenta o espírito, mas alimenta o reconhecimento pelos pares. Há um consenso subentendido de que, se formos bem sucedidos no método fake it until you make it, não importa realmente se estamos ou temos o mérito de fazer parte do discurso ou de sermos reconhecidos como autoridade. Nas palavras de Dostoiévsky, de “lançar no seu meio uma palavra nova“.
Respeito literatura de consumo fácil, apesar de não parecer, depois desta crítica tão azeda. O que não respeito é a forma como a literatura bestseller está a ser utilizada – na minha opinião, de forma preversa – para reforçar estereótipos sobre as mulheres. Não é estranho que os dois bestsellers do momento serem sobre versões romanescas sobre violência de género? Novamente, podem utilizar o escudo de “é só ficção”, mas nunca é “só”. O “só” vem acompanhado de um contexto em que estas autoras se sentem confortáveis para escrever de uma forma que pode mudar, e muda, as perceções sociais sobre a violência de género. É pelo seu interesse fingido na dor das vítimas que merecem ser censuradas.
A legalização da prostituição é uma aberração vendida como liberdade sexual. Para que primeiro nos ouçam precisamos de falar a uma só voz nesta questão e colocar o tema em cima da mesa o mais cedo possível. Aí sim, não tenho dúvidas, o futuro que traçamos para a nossa sociedade será livre de coerção vendida como liberdade.
Ao contrário do reacionarismo primário dos conservadores de direita, o desejo de retorno que eu e os meus pares sentimos não advém de uma honesta afinidade com a sociedade retrógrada de décadas atrás, mas de uma desilusão constante com a sociedade pós-moderna, neoliberal que nos impingem como sinónimo de progresso. Não há um verdadeiro desejo de retorno, mas uma escapatória na falta de outras possibilidades.
Não há condições para ser “jovem prodígio” e refletir sobre as grandes questões da humanidade quando se tem uma família disfuncional aos gritos na divisão ao lado. Se alguém parece ter tudo – a relação amorosa, os resultados académicos, um projeto pessoal a levantar asas –, provavelmente é porque, mais do que ter um it factor fora de série, tem um sistema de apoio que muitos não têm o luxo de ter.