Os 217 milhões de euros que dizem ser “dinheiro da própria TAP” era dinheiro que a TAP não tinha, que não foi usado para comprar as ações da TAP e que entrou na TAP apenas porque Neeleman negociou com a Airbus a sua entrada. A única ponta de verdade nesta história é que a Airbus só aceitou ceder os 217 milhões de euros porque acreditava que, com Neeleman, a TAP iria ser capaz de pagar as encomendas no futuro, algo que estava em risco em 2015.
É o caso mais grave de sempre na política portuguesa? Dificilmente. Já se cometeram ilegalidades bastante piores, mais caras, e com objetivos bem mais fúteis? Sem dúvida. Mas a cultura de cunha tem de acabar porque, mesmo que tal possa eventualmente não se aplicar a este caso, há sempre alguém invisível que fica a perder quando outro alguém visível tem o caminho facilitado.
Todas estas “inevitabilidades” esquecem uma característica fundamental da natureza humana: a eterna insatisfação que a faz querer sempre mudar e a capacidade de inovar. Quem tem sucesso acomoda-se e torna-se displicente. Quem é atirado para as margens agarra-se mais facilmente a tendências emergentes, já que não tem nada a perder. A esquerda, depois de tornar-se dominante nas redações e universidades, acomodou-se, deixando as emergentes redes sociais para a direita. O mesmo irá acontecer “inevitavelmente” à direita.
O único partido que pode falar com absoluta certeza de que foi buscar votos a outros partidos é a Iniciativa Liberal. Mesmo assim, estamos a falar de um aumento de cerca de 39 mil votos relação às Legislativas (ainda faltam alguns consulados que não alterarão substancialmente este valor). Com este número de votos, a Iniciativa Liberal teria tido 5,5% nas legislativas, elegendo 9 deputados.
Antes da popularização da internet já havia jornais de direita e jornais de esquerda. Em alguns casos até rádios e televisões de direita e de esquerda, mas era raro haver uma oferta tribal suficientemente grande para que uma pessoa se conseguisse fechar dentro dela.
A regressão para a média está em todo o lado: no jogo, na astronomia, na economia, na sociologia, nas relações, até na forma como nos sentimos. Todos nós temos bons e maus momentos: sentimo-nos felizes e infelizes em várias alturas da nossa vida, com ou sem razão para tal.