Contabilizados os votos dos 6,1 milhões de eleitores que exerceram o seu direito cívico, o NOVO foi à procura, entre as 3.092 freguesias dos 308 concelhos, daquela que foi a mais votada de cada partido. E a verdade é que, se nalguns casos essa votação coincidiu com o retrato e até com os deputados eleitos por cada círculo, outras ficam apenas na História por terem sido a freguesia recorde de cada força partidária.

Para se perceber o que queremos dizer, a Iniciativa Liberal obteve uma percentagem significativa ao ficar em segundo lugar na freguesia do Mosteiro do concelho de Lajes das Flores, em igualdade com a coligação PPD-PSD/CDS-PP/PPM. Porém, esse registo, que não deixa de ter o seu significado, foi alcançado com apenas… dois votos. E, na verdade, esse resultado não contribuiu para o partido liderado por Rui Rocha eleger qualquer deputado naquele arquipélago.

A Iniciativa Liberal, nos Açores, a CDU e o Chega no Alto Alentejo, o PS e o PAN em Trás-os-Montes, a Aliança Democrática no Minho, o Livre em Lisboa e o Bloco de Esquerda no Algarve, região ganha pelo Chega, mostraram onde foram mais fortes percentualmente nestas eleições legislativas.

A Iniciativa Liberal, nos Açores, a CDU e o Chega no Alto Alentejo, o PS e o PAN em Trás-os-Montes, a Aliança Democrática no Minho, o Livre em Lisboa e o Bloco de Esquerda no Algarve, região ganha pelo Chega, mostraram onde foram mais fortes percentualmente nestas eleições legislativas.

Não se sabe se estamos a falar de resultados episódicos, de fenómenos provocados por qualquer ligação à terra, mas dá para perceber, ainda assim, que existe uma implantação significativa. Se excluirmos os habituais partidos de poder, os resultados alcançados pelo Chega e pela CDU nas suas freguesias-rainhas dariam, caso fossem estendidos a todo o país, para terem uma maioria absoluta no parlamento. O resultado do partido de André Ventura em São Vicente e Ventosa, no concelho de Elvas, o único ganho pelo Chega, deve constituir motivo de estudo, assim como Alcórrego e Maranhão, precisamente numas eleições em que os comunistas perderam o seu último deputado no Alentejo.

AD – 83.15%
Distrito: Viana do Castelo
Concelho: Ponte de Lima
Freguesia: Boalhosa

Foi numa freguesia com 204 eleitores inscritos e 89 votantes que se verificou a votação mais expressiva de uma força política nestas eleições legislativas. Pode dizer-se que, na Boalhosa, a Aliança Democrática reduziu a pó a concorrência, de tal forma que o segundo partido mais votado, o Chega, obteve apenas 6,74% dos votos. O que se pode inferir deste resultado é que o CDS-PP pode ter tido um forte contributo para esta votação pois, em 2022, os democratas-cristãos foram os mais votados, com 43,06%, à frente do PSD (27,78%). E juntos foram mesmo mais fortes os dois partidos de direita, já que, unidos, somaram mais votos do que em separado, em 2022. Se analisarmos os resultados concelhios de Ponte de Lima, a AD ganhou, mas com um valor que ficou pela metade (42,83%) em relação à Boalhosa, cuja freguesia é presidida pelo autarca do CDS Daniel Pereira e Costa. No distrito de Viana do Castelo, a AD elegeu dois deputados: Aguiar-Branco e Emília Cerqueira.

PS – 62.11%
Distrito: Vila Real
Concelho: Montalegre
Freguesia: Negrões

Não se sabe se Pedro Nuno Santos alguma vez foi ou simplesmente ouviu falar de Negrões. Mas devia. Esta pequena freguesia transmontana, com 224 votantes inscritos, constituiu a nível nacional o melhor resultado, percentualmente falando, do PS. Ainda assim, pode dizer-se que se registou uma perda para os socialistas que, em 2022, tinham obtido 77,17% dos votos. Transportando para os resultados do concelho de Montalegre, pode dizer-se que Negrões foi um pequeno oásis socialista, já que a AD ganhou com 39,32%, ao contrário do que tinha acontecido em 2022, quando o PS venceu com 46,74%. Refira-se que, por Vila Real, o PS elegeu dois deputados: Fátima Correia Pinto e Carlos Silva. O presidente da Junta de Freguesia de Negrões é Victor Manuel Dias Carreira, eleito pelo PS nas últimas eleições autárquicas.

Chega – 49.06%
Distrito: Portalegre
Concelho: Elvas
Freguesia: São Vicente e Ventosa

Tal como o Livre, a freguesia onde o Chega obteve a maior votação foi o reflexo de alguns dos seus proveitos. Não só Elvas foi o único concelho ganho pelo Chega em todo o distrito de Portalegre como, pelo círculo, conquistou um dos dois deputados, no caso o ex-PSD Henrique Freitas. Mas há que dar o devido destaque a São Vicente e Ventosa. O resultado do partido de André Ventura é esmagador e vendo à distância o segundo colocado, o PS, com 30,75%, e ainda mais longe a AD, com singelos 10,8%. Números impressionantes e que, possivelmente, vão valer uma visita de André Ventura à freguesia de Portugal mais fiel ao Chega. Basta dizer que, em 2022, o Chega não tinha ido além dos 28,28%, ficando atrás do PS (47,52%). Agora, grosso modo, as posições inverteram-se.

CDU – 41.49%
Distrito: Portalegre
Concelho: Avis
Freguesia: Alcórrego e Maranhão

Fossem todas as freguesias do Alentejo como Alcórrego e Maranhão e a CDU mantinha os seus representantes num território que dominou durante largos anos após o 25 de Abril. Se este resultado fosse estendido a nível nacional, os comunistas ficariam no limiar da maioria absoluta. Mas nada disso acontece e, ainda neste domingo, a CDU perdeu o deputado que lhe restava em solo alentejano: Beja. Nesta freguesia com 378 inscritos e 282 votantes, a CDU reinou fruto dos 117 votos, posicionando-se, por larga margem, acima do PS (28,37%) e do Chega (15,96%). Refira-se que a CDU, em relação a 2022, obteve mais dez votos, mas desceu ligeiramente a percentagem, passando de 41,8% para 41,49%.

Iniciativa Liberal – 18.18%
Açores
Concelho: Lajes das Flores
Freguesia: Mosteiro

l Meros dois votos permitiram à Iniciativa Liberal ter na freguesia do Mosteiro, do concelho de Lajes das Flores, o seu melhor resultado percentual destas eleições. E um segundo lugar em igualdade com a coligação PPD-PSD/CDS-PP/PPM, atrás do PS que obteve… quatro dos 11 votos conquistados no concelho. Estamos a falar de uma freguesia com 26 inscritos e 11 votantes e que, de substantivo, pouco rendeu ao partido liderado por Rui Rocha, pois nenhum dos seus oito deputados foi eleito pelo círculo dos Açores, arquipélago que elegeu dois mandatos para o PS, outros dois para a coligação PPD-PSD/CDS-PP/PPM e um para o Chega. Ainda assim, fica claro que a Iniciativa Liberal tem no Mosteiro dois fiéis.

Livre – 11.83%
Distrito: Lisboa
Concelho: Lisboa
Freguesia: Arroios

l Pode dizer-se que o Livre viu a freguesia lisboeta de Arroios espelhar um pouco do seu resultado nacional, visto que foi no distrito da capital portuguesa que o partido liderado por Rui Tavares conseguiu dois dos seus quatro deputados: o próprio Rui Tavares e ainda Isabel Mendes Lopes, a número dois da força partidária. Mas Arroios constituiu um resultado muito acima daquele que o Livre conseguiu no distrito (5,47%). Em relação a 2022, o Livre mais do que duplicou o número de votos, tendo-se assumido, neste domingo, como o terceiro partido mais votado naquela freguesia apenas atrás da AD (28,72%) e do PS (23,79%), ao contrário do que tinha sucedido em 2022, quando olhava para a frente e via a Iniciativa Liberal e o Bloco de Esquerda.

Bloco de Esquerda – 10.4%
Distrito: Faro
Concelho: Vila do Bispo
Freguesia: Barão de São Miguel

l Foi em pleno Barlavento algarvio que o partido de Mariana Mortágua conquistou a sua melhor percentagem. Poucos terão ouvido falar em Barão de São Miguel, uma freguesia do concelho de Vila do Bispo, onde o Bloco de Esquerda ultrapassou a fasquia dos 10%, ainda que ficasse atrás de PS (34,16%), Chega (21,29%) e AD (11,39%). Nota-se que os bloquistas não estiveram longe de superar a coligação que venceu as eleições a nível nacional e, olhando ao pormenor, percebe-se que ficaram a escassos dois votos (21 contra 23). No Algarve, o Bloco de Esquerda não conquistou nenhum mandato, tendo Chega, PS e AD eleito três deputados cada. Mas consolidaram a quarta posição, com mais de 2 mil votos acima do conseguido em 2022.

PAN – 4.46%
Distrito: Bragança
Concelho: Macedo de Cavaleiros
Freguesia: Cortiços

lNão foi fácil descobrir a freguesia em que o PAN foi mais votado percentualmente. Muito menos se imaginaria que seria em Trás-os-Montes, no concelho de Macedo de Cavaleiros. Em Cortiços, freguesia com 337 inscritos e 157 votantes, o PAN convenceu sete eleitores, mais seis do que em 2022. Com os sete magníficos, o partido de Inês de Sousa Real ficou acima do Bloco de Esquerda, da CDU, do Livre e da Iniciativa Liberal, mas atrás de, e por ordem decrescente, PS, AD e Chega. Mais: dos 69 votos conseguidos pelo partido no concelho de Macedo de Cavaleiros, sete foram em Cortiços. Em resumo, fica a marca, mas pouco mais: a nível distrital, o PAN não passou dos 0,82% relativos a 598 votos, um terço dos obtidos pelo… ADN.